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Comportamento, Geral, Reflexão

SER OU TER?

Ainda estamos em outubro e quero continuar falando sobre as crianças. Esses dias me deparei com um vídeo, que postei em minha página no face, que mostrava alguns pais e filhos brincando enquanto esperavam para experimentar um novo brinquedo que seria lançado no mercado. Brincavam de coisas muito simples que estavam a disposição: desenhavam, peão, telefone feito de lata e barbante, coisas de uma infância de antigamente. Quando finalmente foram chamados para conhecer o tal brinquedo puderam se ver enquanto brincavam juntos, pois este era, na realidade, o propósito. Pais e filhos se emocionam. Eu também me emocionei.

Percebo no meu dia-a-dia no consultório muitos pais e filhos que não estão brincando juntos, desfrutando verdadeiramente um da companhia do outro.

A correria do mundo moderno tem dificultado as coisas, sem dúvida. Mas creio que cabe aqui outra reflexão.

Vivemos num mundo que tem, insistentemente, priorizado o ter em relação ao ser.

Já me deparei com muitos homens e mulheres que querem ter filhos, mas não querem ser pais. Existe uma diferença enorme entre uma coisa e outra.

Se tenho filhos eles passam a ser um objeto para minha satisfação, para a realização de um propósito pessoal. Sendo assim, quando as coisas não saem como planejado, e nunca saem, fico bastante incomodado. Se os filhos não são como o planejado, se demandam de mim mais tempo e trabalho do que eu tinha planejado dispender nesse projeto, as coisas ficam difíceis para ambos os lados. E se não tenho tempo ou disposição, eu terceirizo o cuidado. Terceirizo para escola, babás, avós, etc.

Essas crianças, embora muito bem cuidadas, que ganham inúmeros presentes, etc., sofrem de um abandono silencioso, que lhes deixa um vazio na alma que pode ser revelado em comportamentos inadequados, dificuldades de aprendizagem, depressão, etc.

Sei que muitos pais realmente precisam dividir a tarefa com outras pessoas, mas isso não tira deles a responsabilidade. Eles são os pais!! E esses quando se reencontram com os filhos no final do dia, sentem profunda alegria e, apesar do cansaço, encontram tempo para eles.

Fica um pedido. Se uma mulher diz que não quer ser mãe, não insista! Isso não é o desejo de todas. E se ela resolve aceitar a tarefa para dar uma satisfação à sociedade ou à família as chances são grandes de que ela terá um filho, mas não necessariamente será mãe. O mesmo vale para os homens!

Quando resolvem ser pais, as pessoas assumem uma nova função em suas vidas, que em muitos momentos será prioritária. Assumem o cuidado, a responsabilidade pelo desenvolvimento de outra vida. Embora, naturalmente, todos tenham expectativas em relação aos filhos, quando algo não sai como o esperado isso não é tão incômodo, pois filhos não são um produto que veio com defeito ou que insiste em funcionar de um jeito diferente e, embora as coisas tenham que ser adaptadas, a realidade não muda: continuam sendo pais, de filhos diferentes do imaginado, mas pais.

Ser pai/mãe, muito mais do que brinquedos, aulas, roupas novas, etc., demanda tempo, presença, escuta, paciência. Demanda o seu ser conectando-se a outro ser. Porque o que toda criança quer é ser filho e não, ter pais.

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