limites na infância
Comportamento

CEDER OU NÃO CEDER, EIS A QUESTÃO

O ser humano não gosta de ter seus desejos frustrados. A frustração não é um sentimento agradável. No entanto, nós adultos (a maioria pelo menos) sabemos lidar com as frustrações do dia-a-dia com certa tranquilidade, não necessariamente sem sofrimento. Algumas são mais fáceis outras mais difíceis.

Algumas vezes só nos resta aceitar que não é possível, outras vezes sabemos que é possível lutar e insistir e em outras tantas encontramos, de forma criativa, alternativas. E assim vamos vivendo nossa vida em sociedade.

No entanto, não nascemos sabendo fazer isso. Assim como tantos outros, lidar com a frustração é um aprendizado. Nem sempre muito fácil para filhos ou pais. Quem tem filhos, sejam eles pequenos ou adolescentes, sabe como é difícil esse aprendizado e mais ainda, como é difícil ensinar. Birras, choros, caras feias, objetos atirados longe, portas batidas, xingamentos, queixas de incompreensão e desamor podem aparecer. Não é fácil suportar, e muitas vezes os pais acabam cedendo.

Cedem porque perceberam que exageraram e afinal de contas é possível. Outras porque depois de um longo dia de trabalho, afazeres e preocupações estão cansados e sem a energia necessária para o embate. Em outras, cedem por se sentirem culpados pelo pouco tempo com os filhos. Mas muitos, cedem porque não querem ver o filho “sofrer”, afinal vivemos numa época em que é preciso ser feliz o tempo todo.

É como se o limite, que leva à frustração, fosse algo ruim, negativo. Pelo contrário. É um grande gesto de amor dos pais por seus filhos. Talvez um dos maiores. Dizer sim, ceder aos apelos e exigências é mais fácil, muito mais fácil. Dizer não, dar o limite, exige persistência, paciência, disponibilidade, tempo e sobretudo amor.

São os pequenos limites (Não, você não pode ir com o seu vestido de princesa para a escola ou não, você não pode ficar jogando videogame até as 02h00 da manhã ou Sim, você tem que fazer a lição antes de sair para jogar ou não, você não pode ir para a balada na terça-feira…) que ensinam e preparam para as frustrações que certamente virão no futuro. Afinal, nenhum de nós consegue tudo o que quer, na hora que quer e do jeito que quer.

A diferença está no fato de que quando recebemos estes limites dos nossos pais, eles são dados com amor e, passada a raiva inicial (sim, sentimos muita raiva quando somos frustrados e por isso as reações de birra, etc.), temos a acolhida, o carinho, somos acompanhados afetivamente nessa lida, o que não acontece quando somos adultos. E aos poucos vamos aprendendo a aceitar quando não temos alternativa; a insistir, batalhar, argumentar para conseguir o que desejamos; a encontrar alternativas que satisfaçam; e a encontrar formas mais adequadas de lidar com a raiva.

Não podemos esquecer que o limite é estruturante, nos dá segurança. É muito bom saber que existe alguém que nos ama o suficiente para dizer não e impedir que eu faça algo que me cause dano ou prejudique. É tarefa da criança resistir e fazer birra, e é tarefa dos pais dar limites e dizer não. É tarefa do adolescente protestar, e é tarefa dos pais resistir e, pouco a pouco conforme ele vai se mostrando capaz, afrouxar os limites dando maior autonomia.

Muitos anos atrás li numa revista que os pais são o osso onde os filhos afiam os dentes. Concordo. E a vida exige dentes bem afiados. Então, não cedam, não abdiquem do direito de ser osso!

Previous Post Next Post

You Might Also Like

No Comments

Leave a Reply