A adolescência é um período de profunda mudança tanto para os filhos quanto para os pais.
Como toda transformação, não acontece sem perdas. Para abraçar o novo, é preciso deixar para trás o que já não cabe mais. É uma época de lutos, mas também de abertura para o novo.
Toda grande mudança traz consigo algum medo, dor e ansiedade…
Assim acontece quando um casal se torna pais. O nascimento dói—é deixar o calor e a segurança do útero para ingressar em um mundo vasto, desconhecido, cheio de cores, sons e cheiros.
Ir para a escola pela primeira vez também dói. É trocar a segurança do lar por um novo espaço, maior e cheio de pessoas desconhecidas. Dói para os pais, desde a escolha da escola até o momento de deixar o filho lá, sozinho.
A adolescência também dói. Para o adolescente, porque ele precisa se separar dos pais para construir sua identidade e autonomia. Dói porque o corpo muda, os pais mudam, o mundo muda—e com ele vêm novas exigências e desafios. Dói para os pais porque precisam se despedir da infância do filho, de seu papel de herói. Porque é preciso deixar ir.
No entanto, as transformações não são feitas só de dor. Há descobertas, novas experiências, mais possibilidades, mais autonomia. O mundo vai se descortinando aos poucos para a criança, e conquistá-lo é a alegria da adolescência. Para os pais, há também as alegrias. Acompanhar as conquistas do filho ao longo do tempo, assim como retomar aspectos da própria vida de casal, já que os filhos passam a demandar menos tempo e atenção.
Então, por que a adolescência é tão desafiadora tanto para pais quanto para adolescentes?
Primeiro, porque esquecemos da dor das transformações anteriores. Ou melhor, ela se torna uma memória esmaecida pelas alegrias e conquistas que vieram depois.
Segundo, porque a criança pequena é frágil e desprotegida—ela não sobrevive sem o adulto. A natureza se encarrega de garantir que os pais se apaixonem por ela e queiram cuidar e protegê-la.
A adolescência, por sua vez, é a fase de deixar a segurança do lar e ir para o mundo. É hora de permitir que o filho vá. Para que isso aconteça, algum conflito é necessário—o desconforto suficiente para que ele possa abandonar o ninho e os pais consigam deixá-lo partir.
Da mesma forma que a dor do parto e das outras transformações deu lugar a boas memórias e à alegria de uma nova fase, assim será com a adolescência. Vai passar. No lugar, os pais terão filhos adultos e autônomos, com quem poderão conversar de maneira diferente. O mesmo vale para os filhos. Após a adolescência, uma nova fase virá, seguida de outras, cada uma com suas dores e alegrias.
O segredo está em lidar com os desafios sem perder as conquistas. Encarar as dores sem deixar de desfrutar das alegrias.



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