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Luiza Helena Rocha Brincar Site
Comportamento, Geral, Infância, Reflexão

BRINCAR, BRINCAR E BRINCAR!

Todo pai, toda mãe quer o melhor para os filhos. Faz parte desse desejo dar a eles, e se possível garantir, um futuro promissor. Querem que seus filhos sejam bem sucedidos, que eles tenham sucesso, que possam ter uma independência financeira que lhes aumente as possibilidades de escolha, garanta uma vida tranquila e segura. Querem que eles sejam felizes. Esse desejo é legítimo e natural.

Nessa busca procuram dar aos filhos a melhor educação e o melhor treinamento possível. Escolhem a melhor escola que conseguem pagar. A que tenha o melhor ensino, bilíngue (a tendência do momento), maior acesso a tecnologia e a que proporcione as melhores chances de sucesso no vestibular, afinal a concorrência é cada vez maior e o futuro depende da entrada na Universidade. Para isso também investem em uma série de outras atividades como Kumon, esportes – os mais variados como natação, futebol, judô e outras lutas marciais – aulas de dança, teatro, circo, música.

Esse excesso de atividades tem consequências sobre as quais quero refletir nesse e nos próximos artigos.

Crianças precisam de uma agenda, como os adultos, para organizar a quantidade de compromissos que elas têm. Infelizmente, sobra pouco espaço para o que é mais importante para elas: brincar.

Crianças precisam de tempo para brincar!

Quanto menores elas forem, mais tempo precisam. As maiores e os adolescentes também precisam de tempo livre para não fazer nada, para estar com os amigos, etc.

Por que é tão importante brincar? Porque enquanto brincam livres as crianças desenvolvem uma série de competências psicomotoras que são a base necessária para o aprendizado formal, sem as quais ele pode ser dificultado. E muito!

Através do simbolismo presente no faz de conta de suas brincadeiras as crianças treinam para vários papéis que exercerão ao longo da vida, aprendem a lidar com as emoções e processam alguns dos acontecimentos de sua vida real.

Através de seus jogos aprendem a vencer desafios, negociar, colaborar, estabelecer parcerias, defender seus pontos de vista. Exercitam a criatividade, descobrem o mundo, experimentam, afirmam-se. Brincar é uma das experiências mais ricas e importantes da infância!

Os adolescentes precisam de tempos livres para sonhar, para processar todas as mudanças pelas quais estão passando, para poderem, aos poucos, irem definindo o que querem para o seu futuro, fazendo suas escolhas.

Muitos autores atestam a importância de momentos de tédio, de não fazer nada. De olhar para o teto e sonhar…

Infelizmente com tantas atividades isso não é possível.

Soma-se a isso a onipresença dos celulares e tablets. Não sou contra a tecnologia, elas vieram para ficar e podem contribuir e muito com a educação e o desenvolvimento das crianças. O problema é a forma que ela está sendo utilizada. A falta de equilíbrio. Mas isso é assunto para outro artigo.

Por enquanto um apelo a todos os pais e mães: deixem tempo livre para que seus filhos possam brincar. Isso vai prepara-los para a vida feliz e realizada que vocês tanto desejam para eles.

Luiza Helena Rocha As estações e a vida Site
Comportamento, Geral, Reflexão

AS ESTAÇÕES E A VIDA

A primavera chegou e com ela as flores, os dias de sol, mais pássaros…

Para muitos na vida humana também existem as quatro estações. A infância seria representada pela primavera, época de flores, de alegrias, de desabrochar. O verão seria a adolescência, com suas temperaturas altas, muito sol, muita energia, uma época vibrante. O outono seria a vida adulta. Uma bela estação, de cores douradas, temperaturas amenas, uma época de serenidade. O inverno representaria a velhice, quando as folhas e as temperaturas caem, tudo fica cinzento.

Talvez seja assim, mas esses dias ao caminhar pensei que na realidade as estações acontecem o tempo todo em nossa vida, às vezes num mesmo dia. Pensei que a vida é como Curitiba, todos os climas podem acontecer num mesmo dia. Saia de casaco e guarda-chuva mesmo num dia quente e com sol, porque tudo pode mudar a qualquer momento.

E assim é a vida. Um dia estamos em plena primavera, cheios de planos, alegres, leves. É a alegria tranquila, serena de quem sabe o que quer, aonde vai.

Noutros dias estamos verão, as emoções são intensas, sejam elas quais forem. Estamos entusiasmados, cheios de energia, com uma sensação de que podemos conquistar o mundo! Talvez não o mundo, mas tudo o que desejamos. Estamos mais destemidos.

Muitas vezes estamos outono. Meio preguiçosos, mais caseiros, querendo desfrutar com tranquilidade da vida e do que conquistamos. Queremos estar perto dos que amamos em silêncio, pois nada precisa ser dito, tudo é simplesmente sentido e compreendido.

E em vários momentos estamos inverno. Nossas folhas caem, nossas esperanças vão embora, nossos dias ficam cinzentos, estamos tristes. Nossos planos não dão certo, as frustrações são grandes, os amores vão embora e levam parte do nosso coração…

Muitos acham que o inverno é doença, é depressão. Tristeza não é doença. Em alguns momentos precisamos nos recolher, olhar para dentro, lamber nossas feridas. Quem olha de fora fica preocupado, parece que a vida está indo embora de nós. Engano. Ela está tomando fôlego, para brotar mais bela e exuberante como uma primavera.

Muitos querem fugir do inverno, esquecem que só existe primavera porque houve inverno, que as pragas são mortas no frio das geadas o que permite o brotar saudável das flores e frutos.

Em alguns momentos o inverno é mais rigoroso. Aí sim é preciso tomar cuidado. Nesses momentos temos que recorrer as estufas ou outro tipo de proteção sejam elas os amigos, uma terapia, um remédio.

Mas como acontece na natureza, mesmo após o mais longo e forte inverno a primavera, com suas cores e vida, chega novamente.

Todos temos a nossa estação preferida. A minha é o outono. No entanto, precisamos aprender a desfrutar da beleza de todas elas. Assim como na vida podemos não querer o inverno, mas é ele que nos permite reconhecer a beleza das outras estações.

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Comportamento, Geral, Reflexão

TODAS AS CORES SÃO BELAS!

A ideia para esse artigo me veio a umas duas semanas. Comecei a escrever, mas achei que não estava conseguindo expressar o que queria e deixei a ideia de lado. Hoje, enquanto passeava com meus cachorros, a ideia voltou a rondar a minha cabeça e decidi escrever.

Muitas vezes afirmamos que queremos algo, mas nossas ações parecem querer outra coisa. Essa ambivalência que começa no indivíduo chega até a escola.

Um paciente, que ainda não completou cinco anos, já “aprendeu” que os telhados das casas devem ser marrons, e que é preciso pintar sempre dentro dos espaços. Eu entendo a importância da coordenação motora para o aprendizado da escrita e que pintar dentro de um espaço limitado nos dá notícias que a criança está evoluindo em sua coordenação e controle motor. Existem uma série de exercícios e atividades que podem ser feitas para ajudar as crianças a se desenvolverem nesse aspecto.

O que me incomoda é padronizar tudo. Ensinamos o que é correto, como devem ser as coisas, segundo a ótica do adulto, desde muito cedo. Por que os telhados não podem ser coloridos? Por que a grama não pode ser azul? Por que eu tenho que pintar exatamente da cor que vejo e não da cor que imagino, que sinto, que me agrada? Se isso não fosse possível não teríamos a beleza dos quadros impressionistas.

O paradoxo maior é que treinamos as crianças para o padrão, mas quando elas crescem queremos que aprendam a aceitar a diversidade!! Queremos que olhem com naturalidade e aceitem as diferenças raciais, religiosas, de orientação sexual…, mas não queremos que meninos brinquem de boneca ou meninas de carrinho de rolimã!

Por vezes fui chamada a uma escola para falar sobre um paciente adolescente que apresenta alguns comportamentos “esquisitos”, diferentes da média. Insistiam em enquadrá-lo em uma patologia, solicitavam um diagnóstico, pois assim poderiam falar com a turma, explicar o porquê dos comportamentos e eles parariam com as gozações e bullying com o menino. Como assim?! Não gozar dos colegas, pregar peças constrangedoras, fazer bullying com um colega deveria ser norma, independentemente de uma patologia ou não. A diferença só pode ser aceita quando justificada por um diagnóstico médico? Se for assim como vou diagnosticar uma diferença de crença religiosa? Ou de raça?

Precisamos ficar atentos porque nosso discurso está muito distante de nossa prática. Se queremos um mundo melhor, menos preconceituoso no futuro temos que começar a ensinar hoje as crianças que diferente é só diferente, não é menos, não é mais, não é certo e não é errado. Sendo a escola o primeiro espaço de socialização, ela tem um papel fundamental nesse assunto.

Embora desejada, essa tarefa é complexa, pois a maioria dos agentes participantes da escola carregam dentro de si preconceitos. Despir-se deles é preciso, o quanto antes.

Que o sol possa ser cor-de-rosa, os telhados azuis e cada um aceito do jeito que é.

 

 

 

Amor maior do mundo
Comportamento, Geral, Reflexão

AMOR MAIOR DO MUNDO

Quero falar de amor. Quero falar do amor que pais e mães sentem por seus filhos. Esse é o amor maior do mundo, capaz de entrega, dedicação, sacrifício…, mas acima de tudo um amor incondicional. Pelo menos deveria ser.

Amor incondicional é aquele que permanece apesar dos erros, das decepções. A criança, e o adolescente também, precisa ter essa certeza. A certeza que não importa o que aconteça esse amor está assegurado. Não é um amor se. Se você tirar boas notas, se você obedecer, se você se comportar, se…

Amar incondicionalmente não significa aceitar tudo ou concordar com tudo. Pelo contrário. O que a criança e o adolescente precisam é de um amor que dá limite, que pontua os erros, que briga, mas que não se abala com isso. É incondicional exatamente por isso. Aguenta as decepções e frustrações e permanece firme.

Amar incondicionalmente tampouco significa que os pais não terão momentos em que sentirão raiva, que terão vontade de gritar, de sumir ou de desistir, momentos de cansaço e desânimo. Afinal, antes de serem pais, são seres humanos. São só momentos. O amor incondicional dilui isso ao menor sorriso, ou lágrima.

No entanto, percebo, no meu dia-a-dia do consultório e como professora, que muitos pais confundem esse amor incondicional com colocar o filho como prioridade absoluta em suas vidas, para sempre. Não creio que esse seja o melhor caminho. A pessoa mais importante de nossas vidas, somos nós mesmos. É importante que os pais cuidem-se, priorizem-se em vários momentos por alguns motivos.

Pais são modelos, muito mais por ações do que por palavras, e é importante ensinar os filhos que é importante cuidar de si, colocar-se como prioridade.

Entendam que colocar-se como prioridade não significa egoísmo ou ignorar o outro, mas é ter um limite de até onde se vai pelo outro, do quanto se abre mão pelo outro. Porque é muito difícil dar quando se está esvaziado. E se não nos priorizamos é isso que acaba por acontecer. Escolhendo sempre o outro, acabamos por não nos nutrir e nos esvaziamos. Pais infelizes não são os melhores pais.

E por fim, mas não menos importante, porque se fazemos tamanho “sacrifício” acabamos por apresentar a conta em algum momento. E essa conta é impagável.

Ame seus filhos! Ame-os incondicionalmente!! Mas ame-se primeiro. Vocês e seus filhos merecem isso.

 

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Comportamento, Geral, Reflexão

SINAL DOS TEMPOS

A revista Veja desta semana tenta responder a pergunta: Conexão faz mal a saúde? Algumas pesquisas, segundo a revista, indicam que o uso da tecnologia acentua alguns problemas em jovens.

Essa é uma dúvida recorrente no consultório. O quanto os filhos podem ou não ficar conectados, se jogos de videogame são ruins e deveriam ser proibidos, a dificuldade de dar limite aos adolescentes no uso das redes sociais, etc.

Acredito que a maioria das coisas não são por si só nocivas. O uso que nós fazemos delas é que pode ser, e muito.

Existem vários jogos de videogame que são interessantes e divertidos. O que não pode é permitir que a criança fique horas a fio jogando. Ela precisa de uma multiplicidade de experiências para se desenvolver de forma saudável. Precisa brincar ao ar livre, jogar bola, faz de conta, jogos em grupo, etc. Precisa também um tempo para não fazer nada, ficar ociosa. Todas essas atividades contribuem para o seu desenvolvimento.

Isso é cada vez mais difícil. A agenda dos pequenos é cheia de uma infinidade de compromissos e o volume de lição de casa sempre me espanta. As crianças têm cada vez menos tempo de viver a infância. Além disso uma criança vidrada na tela do celular, tablete ou outro é uma criança entretida, que não pergunta, não incomoda, não atrapalha…

As redes sociais estão aí e não há como impedir um jovem de acessar o facebook, snap, instagram, whatsapp, etc. O importante é orientar o filho sobre o uso excessivo, sobre os riscos que ele corre, e ter acesso ao que ele posta e vê. Limite também é importante. Respeitar a hora das refeições, por exemplo.

Para isso, no entanto, é preciso que os pais deem o exemplo. Como exigir dos filhos um controle se o pai passa boa parte do seu tempo em casa jogando, ou se a mãe não fica longe do celular um instante?

Isso também é difícil. Refeição em família? Cada dia mais raro. Ocupar-se dos filhos, estar atento ao que eles veem, aonde vão, às suas companhias parece não ser mais importante. Percebo os jovens cada vez mais soltos. É preocupante. É importante que pais e filhos conectem-se uns aos outros, não através de aparelhos, mas ao vivo e a cores, partilhando de momentos juntos.

Tem sido dada às crianças e aos adolescentes uma liberdade precipitada sem responsabilidades em contrapartida. Assumem escolhas cada vez mais precocemente, sem necessariamente estarem preparados para isso.

É uma pena, porque estamos encurtando a infância, antecipando a adolescência, acelerando as coisas e depois tentamos retardar a velhice. Não seria melhor se pudéssemos viver plenamente cada uma das fases da vida, em toda sua riqueza e plenitude?

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Comportamento, Geral, Reflexão

RAZÕES PARA A BALEIA SER AZUL

O jogo da Baleia Azul e o seriado Thirteen Reasons Why, ambos dirigidos ao público adolescente, trazem a tona um tema difícil, mas que precisa ser tratado. Não acredito que nenhum deles tenha a capacidade de fazer com que um jovem atente contra a própria vida. Mas acredito que para aqueles que, envoltos em dor e desesperança, já pensam seriamente no assunto eles sirvam como a justificativa que falta.

Não quero falar do jogo ou do seriado, mas refletir sobre o que leva um adolescente a querer se matar.

A adolescência é um fase de transição, de mudanças profundas e, por isso, de fragilidade. O adolescente vive entre dois mundos. Passa pelo luto de abandonar a infância, as brincadeiras, a leveza. Não são mais crianças e, por isso, não lhes é mais permitido agir como tal.

No entanto, ainda não são adultos. Não tem a autonomia e a liberdade que os adultos têm de determinar a sua vida. Aquilo que, a princípio, lhes parece o melhor da vida adulta, lhes é negado. Por outro lado, lhes cobram um comportamento mais responsável e congruente.

O corpo muda, os pais mudam sua forma de tratá-los, os amigos mudam, o mundo a sua volta muda. Ao término dessa fase precisam ter definido sua identidade, sua sexualidade, sua profissão.

Para lidar com tudo isso o adolescente torna-se rebelde ou se isola, questiona e critica. Momento complexo para todos os envolvidos.

Uma das principais tarefas a realizar nesse período é separar-se dos pais. Não fisicamente, mas afetivamente. É perceber que os pais são humanos e não heróis. É discordar deles, pensar diferente, encontrar o seu repertório de atitudes e valores. É lapidar e dar contornos ao adulto que virá a ser.

Para fazer isso o adolescente tem a necessidade de contrapor-se, de confrontar.

Para que todas essas mudanças aconteçam da forma mais tranquila possível é preciso que o adolescente sinta-se protegido e seguro. Ele precisa de limite!!

Um limite amoroso que faça com que ele se sinta cuidado. Ele está se transformando, enfrentando um universo de novidades e precisa sentir que existe uma rede de segurança a sua volta.

Essa rede tem nome: pais. Infelizmente, muitos jovens não podem contar com ela, pois muitos pais estão abrindo mão do seu papel para se tornarem “amigos” dos filhos. Amigos eles têm muitos! Pai só um. Mãe só uma.

Ser pai de adolescente implica em ser chato, antiquado, retrógrado. Implica em críticas, mau humor, cara amarrada, birra, portas batendo, etc. Implica em ser a rede da qual o jovem vai, aos poucos, afrouxando os nós, mas que está ali para lhes dar segurança e, por isso mesmo, leva o maior impacto.

Quando os pais abandonam o seu lugar deixam o adolescente desprotegido. Ele não está preparado psiquicamente, neurologicamente para lidar com isso. Não está suficientemente amadurecido. Precisa de orientação, de cuidado. Não poder contar com essa rede pode ser desesperador e angustiante. É enfrentar uma batalha sem estar preparado, sem ter as armas necessárias, sem ter orientação.

Não ser a rede que dá sustentação e segurança é deixar essa posição livre para ser ocupada por outro agente. Uma gangue de adolescentes, as drogas e o álcool, adultos abusadores, etc. O adolescente precisa de limite e vai buscá-lo até encontrar. Se não encontra na família, encontrará na polícia, no hospital psiquiátrico, na morte.

Ser pai de adolescente é desafiador, mas é rico em aprendizado. Viver esse período de forma um pouco mais tranquila é fruto de todo um investimento afetivo, e de limite também, feito ao longo da infância.

A recompensa é ver os filhos se tornarem adultos responsáveis, produtivos. Com escolhas diferentes, mas igualmente ricas em possibilidades. É saber-se nem expectador, nem diretor. Talvez ajudante de palco, que dá ao ator principal a condição necessária para brilhar.