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O MAIS IMPORTANTE DE TUDO

Este é o último artigo do mês das crianças. Nos artigos anteriores refleti sobre a infância, sua beleza, singularidade, sobre as preocupações dos pais, mas, acima de tudo, enfatizei a importância do brincar. Acredito que tenha ficado claro o papel que o brincar desempenha no desenvolvimento da criança.

Hoje quero falar de um momento de brincadeira que tem para criança uma relevância especial e que terá repercussões a longo prazo. Falo dos momentos de brincadeira vividos com o pai e com a mãe.

É muito, muito importante que os pais brinquem com seus filhos. De boneca, de carrinho, de princesa e super-herói, dentro de casa e ao ar livre. Que possam entrar no mundo da fantasia e assumir os mais variados papéis, seja de mocinho ou de vilão, de filho, de aluno, do que a imaginação da criança precisar.

Esses são momentos especiais! Nesse brincar os laços afetivos se fortalecem e se estreitam, e é isso que vai dar sustentação aos momentos de dar limites, de ensinar coisas que os filhos precisarão para vida. São os laços construídos nessa fase que permitirão que os embates da adolescência aconteçam de forma saudável e sem rupturas.

Brincar com o filho é o melhor investimento que os pais podem fazer. Mas esse brincar exige presença. É preciso estar com a criança de verdade, por inteiro. Nesse momento precioso o celular deve estar desligado, é preciso estar desconectado das mídias sociais. Seu filho merece e precisa de sua atenção.

Muitos falam do “tempo de qualidade” que têm com os filhos. Que bom, mas não é suficiente. Eles precisam de quantidade também! Eles precisam sentir que são importantes, que são merecedores do seu tempo. Porque de todos os bens que nós temos, o único que é limitado (e ninguém sabe quanto tem), o único que não pode ser recuperado é o nosso tempo. É nosso bem mais precioso. Investir esse bem para brincar com seu filho é dar-lhe a dimensão do seu amor por ele.

A infância passa rápido. Participe, esteja presente, viva esses momentos com seu filho, seja testemunha de suas descobertas, de suas invenções, de suas “artes”. Construa com eles memórias, histórias, experiências… De todas as coisas que um pai e uma mãe podem dar para um filho, esses momentos de brincadeira são os mais importantes, pois são a base sobre a qual tudo o mais será construído ao longo do tempo.

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BRINCAR NA ESCOLA

Nos artigos deste mês tenho repetido o quanto brincar é importante para o desenvolvimento das crianças, que é algo sério e que deve ser respeitado e incentivado, especialmente nos primeiros anos da infância. É através do brincar que a criança descobre o mundo e suas possibilidades. Descobre a si mesma e todas as suas capacidades, vence desafios que vão ser a base de todo o aprendizado formal.

As crianças vão cada vez mais cedo para escola. E percebo o quanto a escolha dessa primeira escola pode ser difícil. Muitas vezes pais me perguntam qual a melhor opção. Sempre respondo que a melhor escola é aquela em que o filho é feliz.

No entanto, quando se trata da Educação Infantil existem alguns pontos que considero fundamentais.

A escola tem que passar segurança e tranquilidade aos pais, pois as crianças são muito pequenas, ainda bastante dependentes e os pais precisam confiar muito na escola para deixar seu filho lá. Para que a criança fique bem, os pais precisam estar seguros.

É importante que as turmas sejam pequenas, para que o professor possa dar a devida atenção para todos.

Uma área externa onde a criança possa brincar livremente, possa explorar, com grama, terra, areia, árvores. Se uma criança chega da escola sem sujeira no uniforme, areia dentro do tênis, um arranhão de vez em quando, ela não brincou o suficiente.

Que a escola não se preocupe em alfabetizar a criança o quanto antes. Como psicóloga e psicomotricista insisto em dizer que uma criança de 5 anos ainda não precisa fazer nenhuma atividade em folhas A4 que envolvam o traçado das letras. Ela deve usar papeis maiores, tintas, argila, todo o material que favoreça o desenvolvimento da sua consciência corporal, da coordenação motora global e fina. Se ela tiver tido oportunidade de viver intensamente o prazer psicomotor, o traçado e o aprendizado das letras e números acontecerá naturalmente.

Sei que algumas crianças são curiosas nesse sentido. Devem ter a sua curiosidade atendida, mas não devem ser ensinadas precocemente.

Não tenham pressa em ver seus filhos escrevendo e lendo. Quanto mais eles brincarem, explorarem os materiais e o espaço, mais facilmente aprenderão.

A infância é um período único na vida. Deve ser vivida intensamente, saboreada lentamente, desfrutada em todas as suas possibilidades.

Dessa forma a melhor escola é aquela que respeita a infância e permite que ela floresça, sem pressa, respeitando o ritmo de cada criança. Aquela onde o brincar é uma prioridade.

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BRINCAR, BRINCAR E BRINCAR!

Todo pai, toda mãe quer o melhor para os filhos. Faz parte desse desejo dar a eles, e se possível garantir, um futuro promissor. Querem que seus filhos sejam bem sucedidos, que eles tenham sucesso, que possam ter uma independência financeira que lhes aumente as possibilidades de escolha, garanta uma vida tranquila e segura. Querem que eles sejam felizes. Esse desejo é legítimo e natural.

Nessa busca procuram dar aos filhos a melhor educação e o melhor treinamento possível. Escolhem a melhor escola que conseguem pagar. A que tenha o melhor ensino, bilíngue (a tendência do momento), maior acesso a tecnologia e a que proporcione as melhores chances de sucesso no vestibular, afinal a concorrência é cada vez maior e o futuro depende da entrada na Universidade. Para isso também investem em uma série de outras atividades como Kumon, esportes – os mais variados como natação, futebol, judô e outras lutas marciais – aulas de dança, teatro, circo, música.

Esse excesso de atividades tem consequências sobre as quais quero refletir nesse e nos próximos artigos.

Crianças precisam de uma agenda, como os adultos, para organizar a quantidade de compromissos que elas têm. Infelizmente, sobra pouco espaço para o que é mais importante para elas: brincar.

Crianças precisam de tempo para brincar!

Quanto menores elas forem, mais tempo precisam. As maiores e os adolescentes também precisam de tempo livre para não fazer nada, para estar com os amigos, etc.

Por que é tão importante brincar? Porque enquanto brincam livres as crianças desenvolvem uma série de competências psicomotoras que são a base necessária para o aprendizado formal, sem as quais ele pode ser dificultado. E muito!

Através do simbolismo presente no faz de conta de suas brincadeiras as crianças treinam para vários papéis que exercerão ao longo da vida, aprendem a lidar com as emoções e processam alguns dos acontecimentos de sua vida real.

Através de seus jogos aprendem a vencer desafios, negociar, colaborar, estabelecer parcerias, defender seus pontos de vista. Exercitam a criatividade, descobrem o mundo, experimentam, afirmam-se. Brincar é uma das experiências mais ricas e importantes da infância!

Os adolescentes precisam de tempos livres para sonhar, para processar todas as mudanças pelas quais estão passando, para poderem, aos poucos, irem definindo o que querem para o seu futuro, fazendo suas escolhas.

Muitos autores atestam a importância de momentos de tédio, de não fazer nada. De olhar para o teto e sonhar…

Infelizmente com tantas atividades isso não é possível.

Soma-se a isso a onipresença dos celulares e tablets. Não sou contra a tecnologia, elas vieram para ficar e podem contribuir e muito com a educação e o desenvolvimento das crianças. O problema é a forma que ela está sendo utilizada. A falta de equilíbrio. Mas isso é assunto para outro artigo.

Por enquanto um apelo a todos os pais e mães: deixem tempo livre para que seus filhos possam brincar. Isso vai prepara-los para a vida feliz e realizada que vocês tanto desejam para eles.

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DO QUE UMA CRIANÇA PRECISA PARA CRESCER FELIZ?

As sementes se encontram e porque o sol e a chuva nutrem a planta, ela germina. Começa como pequeno botão, que vai se encorpando até que brota em bela e exuberante flor, com sua beleza e perfumes únicos, cheia de vida e alegria. Assim é a criança. Assim é a infância. Época de desabrochar, de desenvolver, de crescer. Época de alegria, curiosidade, de busca incessante pela vida, pelo conhecimento.

Essa analogia pode ser um pouco piegas, brega até, mas como as estações do ano e suas semelhanças com as etapas da vida foi o tema do último artigo, foi assim que esse se impôs em minha mente.

O fato é que a infância é uma época muito especial na vida de nós seres humanos. Da mais profunda dependência, que não nos permite sobreviver sem que alguém de nós se ocupe, vamos nos desenvolvendo e crescendo, aprendendo e aperfeiçoando até chegarmos a autonomia possível.

Algumas condições são necessárias para que tudo corra da melhor forma e todo o potencial se desenvolva. Alimentação, higiene, sono, etc., mas uma de fundamental importância para que esse processo siga na direção de um adulto feliz é o amor incondicional dos pais.

Toda criança precisa se saber, se sentir amada incondicionalmente. Isso não significa aceitar e atender todos os seus desejos, valorizar, como grande feito, qualquer de suas ações.

Esse amor do qual estou falando é aquele que aponta os erros, que reconhece os acertos. Que condena o mal feito, mas que não se apequena por causa deles. Não é o amor do se. Se você for bonzinho, se você se comportar, se você tirar boas notas, se você for como idealizei, se…

O amor incondicional protege, mas não coloca a criança numa redoma de vidro, que impede qualquer sofrimento, mas a impede de aprender, de conhecer o mundo, de experimentar… Porque é assim, proteção demais impede a dor, mas não permite o amor, as alegrias.

Ele protege, mas não sufoca. Acompanha, observa, permitindo que a criança vá construindo aos poucos a sua identidade, vá descobrindo o mundo e todas as suas possibilidades.

Está atento e se ela se aproxima de algo que vai colocar a sua vida em risco: a protege. Está ao seu lado para compartilhar de suas descobertas, para vibrar com ela, para aprender com ela, mas também para dar conforto, colo, cuidar dos arranhados e “galos” que são inevitáveis, mas não para impedi-los a qualquer custo. São eles que a fortalecem, que ajudam a criança a desenvolver a resiliência de que ela precisará quando for adulta.

Esse equilíbrio entre proteger e deixar viver é complexo. As crianças não nascem com manual de instrução. No momento em que elas nascem, também nasce um pai e uma mãe. Assim como a criança, os pais vão aprendendo e se desenvolvendo a cada dia. Ao longo dessa caminhada vão ser surpreendidos com belas paisagens, alguns obstáculos. Vão errar e acertar, mas se existir amor, a probabilidade maior é de que tudo corra bem.

Não existe uma receita de bolo para ser um bom pai ou uma boa mãe. Existem inúmeros ingredientes, sabores e formas, e cada um vai descobrir o seu jeito. No entanto, existem alguns princípios que norteiam esse processo.

Estamos no mês de outubro e vou aproveitar o mês dedicado às crianças para refletir sobre isso, na intenção de ajudar os pais a encontrarem os seus caminhos, a sua forma única e especial de exercer a paternidade e a maternidade.

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ONDE ESTÁ O HUMANO?

Hoje recebi um vídeo falando de todas as transformações que as novas tecnologias trarão às nossas vidas nos próximos anos. Algumas profissões que conhecemos deixarão de existir ou porque se tornaram desnecessárias, ou porque as pessoas foram substituídas por tecnologia (computadores, apps, inteligência artificial). Não precisaremos mais dirigir carros, haverá menos acidentes, menos vidas serão desnecessariamente perdidas. Poderemos imprimir nossos sapatos novos em casa! Ao mesmo tempo que tudo isso parece fantástico, me parece igualmente assustador.

Um dos motivos que me assustam é que essas transformações parecem tirar o humano, a relação, da equação. Somos seres sociais e foi a nossa capacidade de trabalharmos colaborativamente que nos tornou a espécie dominante no planeta, é o que nos ensina Harari no livro “Sapiens. Uma breve história da humanidade”. Somos seres sociais e necessitamos do outro, necessitamos das relações para nos desenvolvermos, para sobrevivermos.

Acho fantástico um software ou app que, acoplado ao meu celular pode verificar a minha retina, avaliar o meu sangue, a minha respiração e a partir daí analisar o meu estado geral, diagnosticar alguma desequilíbrio ou doença para que providencias possam ser tomadas. Ótimo! Isso vai salvar vidas, vai permitir o diagnóstico precoce de uma série de doenças e assim por diante. Mas não me parece que isso possa substituir a consulta a um médico. Porque para além do diagnóstico e tratamento o que precisamos é de alguém que nos escute, que se interesse por nós e que nos aconselhe, que cuide de nós. Precisamos da relação.

Comprar um par de sapatos é uma experiência. Ver vitrines, muitas vezes com uma amiga, experimentar, caminhar pela loja, conversar com a vendedora, etc. É muito mais do que simplesmente imprimir um sapato novo.

A experiência do humano não pode deixar de existir. Precisamos desse contato. Precisamos de pessoas. Isso não de forma virtual, mas de forma real e concreta. Precisamos do toque. Existem pesquisas científicas recentes que comprovam isso.

Estamos nos isolando cada vez mais. “Conversamos” todos os dias através do WhatsApp com nossos amigos, mas não conseguimos nos encontrar para um café. Sabemos notícias dos parentes que moram em outras cidades, mas passamos semanas sem ver os que moram por perto (tudo bem, em alguns casos isso pode ser uma benção!).

Os casos de depressão, de transtornos de ansiedade e outros aumentam a cada dia e até mesmo crianças têm sofrido com isso. Talvez uma das razões é que estamos diminuindo o convívio entre as pessoas. Um convívio sem interferência da tecnologia. O celular “senta-se” à mesa, as redes sociais tornam as relações virtuais e ocupam o tempo das relações reais.

Toda essa transformação é um caminho sem volta. E traz, com certeza, muitos ganhos. Mas precisamos, como em tudo na vida, de equilíbrio. Aproveitar o que a tecnologia traz de melhoria e vantagem, sem perder o que nos distingue como raça, o que nos torna humanos.

 

Mudança 3
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NAVEGAR É PRECISO… MUDAR TAMBÉM!

“O segredo da mudança está em centrar toda a sua energia, não em lutar contra o passado, mas em construir tudo novo”. – Sócrates

Li a frase acima num artigo da revista Pensar Contemporâneo. No artigo eles apresentam dez frases de crescimento pessoal de grandes filósofos. Elas me fizeram refletir e vão dar origem a alguns artigos. Esse é o primeiro.

Mudança e transformação estão presentes em nossa vida desde a fecundação, até a morte. Apesar disso muitos têm dificuldade para lidar com isso, têm medo da mudança.

Mudar é ir em direção ao incerto, é levantar âncora e abandonar o porto seguro do conhecido. Para alguns isso é impossível e permanecem, não sem mudar porque é impossível, mas sem ser o autor da mudança. Ficam em relacionamentos onde não são valorizados ou reconhecidos. Ficam em empregos onde não encontram propósito ou satisfação. Ficam ao sabor do vento, seguindo em direção à morte, olhando a vida passar através das janelas.

Às vezes não se sentem capazes ou com direito a transformar-se e à sua vida como desejam. Crenças em discursos antigos, em velhas histórias, em paradigmas caducos são paralisantes. Não querem decepcionar, não corresponder àquilo que acreditam os outros esperam deles. Acomodam-se nos ganhos secundários que toda situação, mesmo as mais difíceis, têm.

No consultório são muitos os casos de pessoas que repetem as histórias familiares, como se fossem um destino ao qual não podem fugir. Sofrem hoje por dores e culpas que não são suas, por feridas que já cicatrizaram.

Com o passar dos anos se perguntam o que aconteceu, se desesperam pelo tempo perdido. Culpam os outros e mais uma vez não mudam, pois agora a crença é de que não há mais tempo…

Sempre há tempo! Só é tarde demais, quando a vida se encerra.

O passado, nossa história, faz parte do que somos, mas não nos define. Sempre podemos mudar, transformar-nos, não num ideal inatingível de anúncios, mas no que podemos e desejamos ser. Lutar contra o passado de nada adianta. Não podemos mudá-lo. É preciso aceitar.

Quando embarcamos num processo terapêutico é isso que fazemos. Olhamos para nossa história, lidamos com as emoções, com os arrependimentos, perdoamos, aceitamos e… deixamos ficar. Levamos conosco o aprendizado, algumas boas lembranças e só.

Como fazer isso?

Alguns cortam as amarras e se lançam, movidos pelo desespero de nunca mudar. Mas sem a bússola da reflexão navegam em círculos e acabam por retornar ao ponto de partida.

Outros se enganam, repetindo o discurso da mudança, mas concretamente pouco fazem.

Os que conseguem são aqueles que diariamente renunciam ao que eram, abandonam os pesos inúteis, e seguem firmes em direção à mudança. Não fazem estardalhaço, nem tem planos mirabolantes. Entendem que chegar ao destino implica em caminhar todos os passos, navegar todas as ondas. Sabem do cansaço, dos tropeços, dos retrocessos, das tempestades, mas seguem em frente. Entendem que a mudança não é o destino, mas o caminhar, o navegar.

Desfrutam do processo, pois há tristeza, mas também alegria. Há dor, mas também beleza. Acima de tudo há a satisfação e o prazer de saber-se o responsável pela transformação.

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FELICIDADE

Alguns dias atrás me deparei com um vídeo da Casa do Saber onde o professor Oswaldo Giacoia Júnior, falava sobre a angústia e a esperança segundo o filósofo Kierkegaard. Como sempre os vídeos da Casa do Saber são muito interessantes. Não conheço o pensamento de Kierkegaard, mas uma frase do professor Oswaldo me chamou a atenção.

… Nós vivemos um tempo em que somos obrigados a ser felizes. (…) É um imperativo você ser feliz, ser bem sucedido”.

Concordo com essa frase e vejo todos os dias no consultório pessoas – adultos, crianças e adolescentes – buscando esse tipo de felicidade de anúncio de margarina.

O que me chama muito a atenção é que mais do que ser felizes as pessoas querem evitar a qualquer custo a tristeza. Os pais fazem de tudo para evitar que seus filhos lidem com qualquer tipo frustração ou dificuldade.

Bem, o mesmo muro que construímos para nos proteger da tristeza, nos impede a felicidade. Uma vida é plena quando experimentamos todas as emoções e sentimentos: alegria, tristeza, raiva, medo, gratidão, etc.

Se alguém pudesse ser feliz o tempo todo, se nunca tivesse sentido uma tristeza, não saberia disso. Porque nós nos percebemos felizes porque em algum momento estivemos tristes. Sabemos do doce porque experimentamos o amargo.

Ser feliz o tempo todo é viver uma vida de gráfico em linha reta. Num gráfico em linha reta não há vida. Para haver vida é preciso um gráfico com altos e baixos, marcando os batimentos cardíacos. Para haver vida é preciso experenciarmos tristeza e alegria, derrota e vitória, dor e amor.

Claro, faremos tudo para que os altos sejam em maior número, mas não é saudável ou desejável que os baixos nunca aconteçam.

E aí retomo algo que falo sempre: pais que evitam dizer não, dar limite, frustrar seus filhos estão impedido o aprendizado necessário. É preciso aprender a lidar com a frustração. Durante a vida seremos frustrados inúmeras vezes, pois não temos tudo que queremos, na hora e o jeito que queremos.

Quando as crianças encontram os limites dados pelos pais, experimentam a frustração permeada pelo amor. Os pais podem ajuda-los a lidar com isso. É um treino para a vida adulta. Eles se fortalecem, aprendem a não desistir, a superar, a seguir em frente ou, se for o caso, aceitar.

Pais que não dão limites aos filhos, não lhes permitem a frustração, estão plantando a semente de adultos frágeis, despreparados para a vida. Sofrerão muito mais do que o necessário. Essa frustração não será mediada pelo afeto e, muitas vezes, eles não terão os pais por perto para apoiá-los.

A busca pela felicidade duradoura nas coisas é nunca encontrá-la. Essa falta que nunca se completa é o que nos move, mas a felicidade está na busca.

A felicidade está nas relações, no propósito. Ela está em momentos como o que estou vivendo enquanto escrevo este artigo. Ao ar livre, num lindo dia de sol, junto com meus cachorros, que me interrompem para que eu brinque com eles ou faça um carinho. E neste instante… eu sou feliz!

 

 

 

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COMO FOI SEU DIA HOJE?

Li um post no facebook essa semana sugerindo uma série de perguntas alternativas ao clássico: “Como foi na escola hoje?”.

Perguntas diferentes como:

O que te fez sorrir hoje?

Qual foi o ponto mais alto do seu dia? E o mais baixo?

Achei bem interessante…

Mas pensei que uma boa conversa é uma troca, uma partilha.

Muitos adultos, pais, tentam poupar os filhos das dificuldades do dia-a-dia, e isso está certo. Não adianta apresentar a eles problemas que eles não têm, ainda, condições de compreender plenamente e, muito menos, de ajudar a resolver.

No entanto, acredito que é importante que eles saibam como é o dia-a-dia de trabalho dos pais. Que num determinado dia estão felizes porque fecharam um novo contrato, tiveram um projeto aprovado, receberam um reconhecimento do chefe ou dos colegas. Que em outro estão preocupados porque algo não saiu como esperavam, porque um colega está com problemas e não foi trabalhar.. Ou que noutro dia estão irritados porque um fornecedor perdeu o prazo, um cliente não pagou, etc.

Isso dá às crianças a perspectiva de que na vida existem dias bons, dias médios e dias não tão bons. Que isso faz parte, é natural.

Quando partilham esses momentos com os filhos, com algum filtro para que a realidade seja compreensível para eles, podem ensinar como lidar não só com as situações, mas, acima de tudo, com as emoções.

As crianças precisam aprender que os adultos sentem raiva às vezes, que ficam chateados, frustrados, felizes, orgulhosos assim como eles. Aprender que sentir orgulho pelo resultado dos esforços é bom, mas não dá o direito de contar vantagem sobre o colega. Que ficar frustrado é chato, dolorido até, mas que ficar se lamentando não resolve. Que o importante é aprender e fazer uma escolha: buscar outras formas de conseguir o que se quer, se preparar melhor; ou deixar para lá se a questão não é tão importante. Que a raiva é muito natural, que todos sentem raiva, mas que isso não dá direito a sermos grosseiros com os outros, que existem outras formas de lidar com ela. Que se estão felizes isso pode, e deve, ser partilhado com os amigos.

Mas o que de mais importante pode ser partilhado nesse momento é o sentimento de que, apesar de alguns percalços, trabalhar/produzir, assim como estudar/aprender, é algo bom, que traz satisfação, realização, que tem um propósito!

Porque uma das coisas mais tristes de hoje é ver as crianças começarem a vida escolar cheias de energia, sede de aprendizado, plenas de alegria e irem aos poucos “murchando”, perdendo o prazer… O mesmo que acontece com o adulto no trabalho.

Passamos grande parte da nossa vida ou na escola, ou no trabalho e se não encontramos em ambos um significado, um prazer, um propósito tornamos a vida sem sentido, aborrecida, sem cor.

Vamos aproveitar o trecho entre a escola e a casa, a hora de dormir, a refeição para partilhar experiências e aprendizados, para compartilhar a vida, fortalecer os vínculos, semear as cores que vão dar o tom da existência. Porque como foi o seu dia hoje é parte de como será sua vida amanhã.

 

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PEIXE INTEIRO NÃO CABE NO FORNO.

 

A família de Julia gostava muito de comer peixe assado. Era uma tradição dos almoços de domingo. Um dia Julia perguntou à sua mãe porque elas sempre cortavam a cabeça e o rabo do peixe antes de assá-lo. A mãe explicou que aprendeu a fazer o peixe dessa forma com a avó de Julia. Ainda intrigada, Julia foi perguntar a sua avó porque cortavam a cabeça e o rabo do peixe. A avó explicou que quando se casou o seu forno era muito pequeno e o peixe inteiro não cabia, assim ela cortava a cabeça e o rabo para poder assar o peixe. Há muitos anos que o forno da avó de Julia, bem como o da mãe e o dela, tem tamanho suficiente para assar o peixe inteiro, mas eles continuavam a perder a cabeça e o rabo. Se Julia não fosse curiosa é provável que suas filhas e suas netas também assassem seus peixes sem cabeça ou rabo. E como a essa altura a avó já não estaria por perto, nunca saberiam porque era feito dessa forma.

Dando aula essa semana sobre percepção e paradigmas, lembrei dessa história que me foi contada alguns anos atrás. Tenho refletido muito sobre o tema nos últimos tempos (não sobre qual a melhor forma de assar peixes, mas sobre paradigmas). Quantas coisas fazemos todos os dias por hábito, porque aprendemos que era o jeito certo de fazer e não questionamos? Quantas oportunidades perdemos porque não arriscamos uma jeito diferente de fazer as coisas? Quantas experiências ricas, divertidas perdemos porque elas fogem do roteiro? Quantas pessoas inteligentes, interessantes deixamos de conhecer porque não correspondem ao padrão?

Nós seres humanos precisamos de uma certa rotina, de alguns referenciais de segurança para podermos viver. Não daríamos conta se a cada dia tudo fosse novo e diferente. Mas isso não significa que precisamos ficar presos a coisas que foram válidas e boas num dado momento, mas que hoje não são mais.

Alguém disse que não podemos mergulhar duas vezes no mesmo rio, porque ele não será o mesmo, nem nós seremos os mesmos. Isso é verdade. Aquilo que preciso, que gosto na minha infância, é diferente do que preciso e gosto na adolescência ou na vida adulta.

A minha ideia não é fazer tudo diferente, jogar para o alto todas as certezas e hábitos, mas .questionar para saber se ainda é válido, se ainda é bom, se ainda quero as coisas da mesma forma

Assisti essa semana uma fala de Ricardo Semler no Ted em 2015. Ele sugere que nos perguntemos “por que?” não uma, mas três vezes. Na primeira vez a resposta virá fácil e pronta. Na segunda já ficaremos em dúvida. Na terceira talvez não encontremos resposta. E depois ele sugere que façamos uma outra pergunta: “para que?”. Qual o propósito que isso tem na minha vida?

Questionar-se é complexo e, muitas vezes, incômodo. Acredito, no entanto, que é melhor do que acordar um dia e ver que tudo mudou a nossa volta, que a vida seguiu em frente, e nós ficamos parados, repetindo os mesmo erros, fazendo as mesmas coisas…

Existem coisas que não podem e não devem mudar. São poucas, muito poucas.

Desejo sinceramente que possamos comer peixe assado com rabo e cabeça ou sem, peixe frito, cozido, com diferentes molhos e temperos. Que possamos experimentar outros pratos, outros sabores, outras cores, outras músicas, outras formas, outros jeitos. E escolher as que mais gostamos, as que nos fazem sentir melhor, que nos fazem vibrar. Aquelas que fazem a vida valer a pena.

 

 

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TODAS AS CORES SÃO BELAS!

A ideia para esse artigo me veio a umas duas semanas. Comecei a escrever, mas achei que não estava conseguindo expressar o que queria e deixei a ideia de lado. Hoje, enquanto passeava com meus cachorros, a ideia voltou a rondar a minha cabeça e decidi escrever.

Muitas vezes afirmamos que queremos algo, mas nossas ações parecem querer outra coisa. Essa ambivalência que começa no indivíduo chega até a escola.

Um paciente, que ainda não completou cinco anos, já “aprendeu” que os telhados das casas devem ser marrons, e que é preciso pintar sempre dentro dos espaços. Eu entendo a importância da coordenação motora para o aprendizado da escrita e que pintar dentro de um espaço limitado nos dá notícias que a criança está evoluindo em sua coordenação e controle motor. Existem uma série de exercícios e atividades que podem ser feitas para ajudar as crianças a se desenvolverem nesse aspecto.

O que me incomoda é padronizar tudo. Ensinamos o que é correto, como devem ser as coisas, segundo a ótica do adulto, desde muito cedo. Por que os telhados não podem ser coloridos? Por que a grama não pode ser azul? Por que eu tenho que pintar exatamente da cor que vejo e não da cor que imagino, que sinto, que me agrada? Se isso não fosse possível não teríamos a beleza dos quadros impressionistas.

O paradoxo maior é que treinamos as crianças para o padrão, mas quando elas crescem queremos que aprendam a aceitar a diversidade!! Queremos que olhem com naturalidade e aceitem as diferenças raciais, religiosas, de orientação sexual…, mas não queremos que meninos brinquem de boneca ou meninas de carrinho de rolimã!

Por vezes fui chamada a uma escola para falar sobre um paciente adolescente que apresenta alguns comportamentos “esquisitos”, diferentes da média. Insistiam em enquadrá-lo em uma patologia, solicitavam um diagnóstico, pois assim poderiam falar com a turma, explicar o porquê dos comportamentos e eles parariam com as gozações e bullying com o menino. Como assim?! Não gozar dos colegas, pregar peças constrangedoras, fazer bullying com um colega deveria ser norma, independentemente de uma patologia ou não. A diferença só pode ser aceita quando justificada por um diagnóstico médico? Se for assim como vou diagnosticar uma diferença de crença religiosa? Ou de raça?

Precisamos ficar atentos porque nosso discurso está muito distante de nossa prática. Se queremos um mundo melhor, menos preconceituoso no futuro temos que começar a ensinar hoje as crianças que diferente é só diferente, não é menos, não é mais, não é certo e não é errado. Sendo a escola o primeiro espaço de socialização, ela tem um papel fundamental nesse assunto.

Embora desejada, essa tarefa é complexa, pois a maioria dos agentes participantes da escola carregam dentro de si preconceitos. Despir-se deles é preciso, o quanto antes.

Que o sol possa ser cor-de-rosa, os telhados azuis e cada um aceito do jeito que é.