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Dúvida

Mudança 3
Comportamento, Geral, Reflexão

NAVEGAR É PRECISO… MUDAR TAMBÉM!

“O segredo da mudança está em centrar toda a sua energia, não em lutar contra o passado, mas em construir tudo novo”. – Sócrates

Li a frase acima num artigo da revista Pensar Contemporâneo. No artigo eles apresentam dez frases de crescimento pessoal de grandes filósofos. Elas me fizeram refletir e vão dar origem a alguns artigos. Esse é o primeiro.

Mudança e transformação estão presentes em nossa vida desde a fecundação, até a morte. Apesar disso muitos têm dificuldade para lidar com isso, têm medo da mudança.

Mudar é ir em direção ao incerto, é levantar âncora e abandonar o porto seguro do conhecido. Para alguns isso é impossível e permanecem, não sem mudar porque é impossível, mas sem ser o autor da mudança. Ficam em relacionamentos onde não são valorizados ou reconhecidos. Ficam em empregos onde não encontram propósito ou satisfação. Ficam ao sabor do vento, seguindo em direção à morte, olhando a vida passar através das janelas.

Às vezes não se sentem capazes ou com direito a transformar-se e à sua vida como desejam. Crenças em discursos antigos, em velhas histórias, em paradigmas caducos são paralisantes. Não querem decepcionar, não corresponder àquilo que acreditam os outros esperam deles. Acomodam-se nos ganhos secundários que toda situação, mesmo as mais difíceis, têm.

No consultório são muitos os casos de pessoas que repetem as histórias familiares, como se fossem um destino ao qual não podem fugir. Sofrem hoje por dores e culpas que não são suas, por feridas que já cicatrizaram.

Com o passar dos anos se perguntam o que aconteceu, se desesperam pelo tempo perdido. Culpam os outros e mais uma vez não mudam, pois agora a crença é de que não há mais tempo…

Sempre há tempo! Só é tarde demais, quando a vida se encerra.

O passado, nossa história, faz parte do que somos, mas não nos define. Sempre podemos mudar, transformar-nos, não num ideal inatingível de anúncios, mas no que podemos e desejamos ser. Lutar contra o passado de nada adianta. Não podemos mudá-lo. É preciso aceitar.

Quando embarcamos num processo terapêutico é isso que fazemos. Olhamos para nossa história, lidamos com as emoções, com os arrependimentos, perdoamos, aceitamos e… deixamos ficar. Levamos conosco o aprendizado, algumas boas lembranças e só.

Como fazer isso?

Alguns cortam as amarras e se lançam, movidos pelo desespero de nunca mudar. Mas sem a bússola da reflexão navegam em círculos e acabam por retornar ao ponto de partida.

Outros se enganam, repetindo o discurso da mudança, mas concretamente pouco fazem.

Os que conseguem são aqueles que diariamente renunciam ao que eram, abandonam os pesos inúteis, e seguem firmes em direção à mudança. Não fazem estardalhaço, nem tem planos mirabolantes. Entendem que chegar ao destino implica em caminhar todos os passos, navegar todas as ondas. Sabem do cansaço, dos tropeços, dos retrocessos, das tempestades, mas seguem em frente. Entendem que a mudança não é o destino, mas o caminhar, o navegar.

Desfrutam do processo, pois há tristeza, mas também alegria. Há dor, mas também beleza. Acima de tudo há a satisfação e o prazer de saber-se o responsável pela transformação.

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Análise Corporal da Relação, Comportamento, Geral, Reflexão

5 MINUTOS

Não escrevo já faz algum tempo…

É sobre o tempo que quero escrever.

Aproveitei que o dia está lindo, sol, e vim até o jardim do meu edifício junto com meus cachorros para escrever. Eles ficam soltos, aproveitam para brincar e correr e eu escrevo.

A inspiração não vinha e a Princesa queria brincar! Larguei tudo e fui correr com ela enquanto o Moringa, já um senhor, nos observava.

Corremos uns 5 minutos. Que delícia que é vê-la correndo!

Foi daí que me veio a inspiração.

A grande queixa dos nossos tempos é a falta de tempo. Além do trabalho, de todas as atividades, ainda tempos as inúmeras redes sociais para acompanhar, postar, etc.

Muitas vezes ouvi que tempo é uma questão de preferência.

Não sei se preferência, mas de escolha. Escolher aquilo que é mais importante e ao que vamos dedicar o nosso tempo.

Tempo é o nosso bem mais precioso. Temos uma quantidade finita de tempo e ninguém sabe quanto tem. É justamente por isso que ele deve ser bem empregado.

A dificuldade que temos com a escolha, e não só em relação ao tempo, é que para cada escolha são inúmeras a renúncias que fazemos. Se escolho brincar com meu cachorro, esse é um tempo que não dedico ao Facebook, ao Instagram, ao Whatsapp. É um tempo que não leio, não escrevo, não produzo.

Foram 5 minutos. Ela ficou feliz, eu fiquei feliz! Hoje a noite quando for escrever no meu diário de gratidão, com certeza escreverei sobre esse momento. Não vou escrever sobre o que li e escrevi nas redes sociais ou sobre o que vi na televisão.

Acredito que precisamos pensar um pouco mais sobre nossas escolhas. Precisamos fazer escolhas mais sábias, baseadas no que é realmente importante para nós e não aquilo que é importante para os outros. Precisamos fazer isso já e não quando o tempo tiver passado e momentos preciosos tenham sido perdidos. O tempo que passou não volta.

Pense nisso quando seu filho pedir para você ler uma história, brincar um pouco.

Pense nisso quando seus pais quiserem conversar, contar novamente a mesma história.

Pense nisso quando um amigo quiser tomar um café.

Pense nisso quando seu amor quiser mais um beijo ou demorar-se um pouco mais num abraço.

5 minutos talvez sejam suficientes e vão fazer um grande diferença.

Pense nas boas memórias que você tem. Quantas delas são de um instante, de um momento, de 5 minutos…

Não importa o que você faça o tempo não para. Escolha bem.

Você tem 5 minutos!

 

 

 

 

 

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Análise Corporal da Relação, Comportamento, Geral, Reflexão

O IMPORTANTE É A PESSOA!

Nos últimos tempos muito tem sido falado, discutido, debatido sobre a identidade de gênero, e nesses últimos dias após a liminar de um juiz no Distrito Federal a “cura” gay voltou a pauta.

Como tem acontecido com as polêmicas, todo mundo tem uma opinião a respeito, mesmo sem ter tido acesso ao processo, ao texto da liminar, ou conversado com os agentes envolvidos. Algumas opiniões são bem argumentadas outras raivosas e preconceituosas.

A sexualidade humana não é minha especialidade como psicóloga, mas acredito que a homossexualidade não é nem doença, nem escolha, assim como a heterossexualidade. Pode-se dizer que são uma característica, uma orientação, uma inclinação… Não é sobre isso que quero escrever.

Percebo que nessa discussão o principal está sendo esquecido: o indivíduo e seu sofrimento, sua dor e o quanto isso afeta suas relações, sejam elas familiares ou sociais. E é só isso que importa.

Na minha prática clínica como psicóloga e analista corporal da relação aprendi que a verdade de cada um é única e particular. Não existe certo ou errado, existe o que faz sofrer, o que impede a realização e a felicidade e o que as propicia. O que é bom e funciona para um, não necessariamente será bom e funcionará para o outro.

Como psicóloga não me cabe julgar ou dar uma opinião e muito menos escolher o caminho que o indivíduo deve seguir. Eu como pessoa tenho minhas crenças, minhas convicções, meus princípios e sei o que me serve ou não. Mas em momento algum e sobre nenhum argumento posso manipular, seduzir ou impor minha verdade àquele que me procura como profissional.

Meu papel primeiro é o de escuta. Uma escuta livre de julgamento de valor, com aceitação e respeito incondicionais. Quem me procura deve ter no meu consultório um espaço para SER, sem medo, sem vergonha, sem restrição ou pudor. Um local onde tudo, absolutamente tudo pode ser dito por mais absurdo ou errado que possa parecer. A pessoa precisa ser acolhida e aceita.

Uma vez estabelecida a relação de confiança é meu papel como psicóloga questionar a pessoa, auxiliá-la a compreender o que acontece, quais os afetos envolvidos, quais as crenças que permeiam a história, enfim, ajudá-la a perceber-se e compreender-se para a partir daí fazer as suas escolhas, sejam elas quais forem, sempre respeitando o seu tempo, seus valores, suas crenças, suas verdades.

O mais importante nesse debate todo é a LIBERDADE. As pessoas precisam ser livres para serem o que são, para fazerem suas escolhas, mesmo que a escolha seja negar aquilo que se é. Toda vez que impomos a nossa verdade ao outro, por mais bem intencionados que somos, erramos.

Acredito ser muito importante debater o tema, trazer informação (fundamentadas em pesquisas e estudos sérios e não baseadas em achismos e palpites), para que as pessoas possam compreender e decidir. CONHECIMENTO é fundamental. Dessa forma evitamos que pessoas e grupos, com interesses e agendas pessoais, manipulem, deturpem os fatos, aprisionem as pessoas em papéis que não lhes cabem.

E por último, mas não menos importante, RESPEITO! Posso não concordar, posso achar uma loucura a escolha do outro, mas preciso respeitá-la.

 

 

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Análise Corporal da Relação, Comportamento, Geral, Reflexão

PEIXE INTEIRO NÃO CABE NO FORNO.

 

A família de Julia gostava muito de comer peixe assado. Era uma tradição dos almoços de domingo. Um dia Julia perguntou à sua mãe porque elas sempre cortavam a cabeça e o rabo do peixe antes de assá-lo. A mãe explicou que aprendeu a fazer o peixe dessa forma com a avó de Julia. Ainda intrigada, Julia foi perguntar a sua avó porque cortavam a cabeça e o rabo do peixe. A avó explicou que quando se casou o seu forno era muito pequeno e o peixe inteiro não cabia, assim ela cortava a cabeça e o rabo para poder assar o peixe. Há muitos anos que o forno da avó de Julia, bem como o da mãe e o dela, tem tamanho suficiente para assar o peixe inteiro, mas eles continuavam a perder a cabeça e o rabo. Se Julia não fosse curiosa é provável que suas filhas e suas netas também assassem seus peixes sem cabeça ou rabo. E como a essa altura a avó já não estaria por perto, nunca saberiam porque era feito dessa forma.

Dando aula essa semana sobre percepção e paradigmas, lembrei dessa história que me foi contada alguns anos atrás. Tenho refletido muito sobre o tema nos últimos tempos (não sobre qual a melhor forma de assar peixes, mas sobre paradigmas). Quantas coisas fazemos todos os dias por hábito, porque aprendemos que era o jeito certo de fazer e não questionamos? Quantas oportunidades perdemos porque não arriscamos uma jeito diferente de fazer as coisas? Quantas experiências ricas, divertidas perdemos porque elas fogem do roteiro? Quantas pessoas inteligentes, interessantes deixamos de conhecer porque não correspondem ao padrão?

Nós seres humanos precisamos de uma certa rotina, de alguns referenciais de segurança para podermos viver. Não daríamos conta se a cada dia tudo fosse novo e diferente. Mas isso não significa que precisamos ficar presos a coisas que foram válidas e boas num dado momento, mas que hoje não são mais.

Alguém disse que não podemos mergulhar duas vezes no mesmo rio, porque ele não será o mesmo, nem nós seremos os mesmos. Isso é verdade. Aquilo que preciso, que gosto na minha infância, é diferente do que preciso e gosto na adolescência ou na vida adulta.

A minha ideia não é fazer tudo diferente, jogar para o alto todas as certezas e hábitos, mas .questionar para saber se ainda é válido, se ainda é bom, se ainda quero as coisas da mesma forma

Assisti essa semana uma fala de Ricardo Semler no Ted em 2015. Ele sugere que nos perguntemos “por que?” não uma, mas três vezes. Na primeira vez a resposta virá fácil e pronta. Na segunda já ficaremos em dúvida. Na terceira talvez não encontremos resposta. E depois ele sugere que façamos uma outra pergunta: “para que?”. Qual o propósito que isso tem na minha vida?

Questionar-se é complexo e, muitas vezes, incômodo. Acredito, no entanto, que é melhor do que acordar um dia e ver que tudo mudou a nossa volta, que a vida seguiu em frente, e nós ficamos parados, repetindo os mesmo erros, fazendo as mesmas coisas…

Existem coisas que não podem e não devem mudar. São poucas, muito poucas.

Desejo sinceramente que possamos comer peixe assado com rabo e cabeça ou sem, peixe frito, cozido, com diferentes molhos e temperos. Que possamos experimentar outros pratos, outros sabores, outras cores, outras músicas, outras formas, outros jeitos. E escolher as que mais gostamos, as que nos fazem sentir melhor, que nos fazem vibrar. Aquelas que fazem a vida valer a pena.

 

 

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Comportamento, Geral, Reflexão

TUDO BEM!

Não escrevo um artigo a mais de um mês. Uma crise de inspiração, talvez cansaço de final de semestre, preguiça, muitas podem ser as desculpas ou justificativas. Vários temas me passaram pela cabeça, comecei a escrever um ou dois textos, mas nada foi para frente. Inúmeras vezes me cobrei escrever, afinal estabeleci esse propósito: um texto por semana.

De um modo geral, a inspiração vem, e escrevo com certa tranquilidade, principalmente se considerarmos que não sou escritora, sou psicóloga. Mas nos últimos dias não consegui escrever.

Hoje acordei decidida: vou escrever! Chega de enrolação, autopiedade, desculpas e mãos a obra.

Estou a algum tempo encarando a tela do computador. Já comecei a escrever algumas vezes, mas nada me agradou. Então decidi compartilhar com vocês minha dificuldade e o que pensei a respeito dela.

Imagino que essa dificuldade não seja só minha. Vocês também devem passar por momentos assim, onde a inspiração não vem ou, mesmo gostando do que fazemos, não queremos fazer. Momentos em que uma série de outras coisas parecem muito mais interessantes e divertidas do que a tarefa que temos pela frente.

Isso é humano. Apesar do que os comerciais e anúncios quererem nos fazer acreditar, a vida não é uma eterna festa e o sucesso não vem fácil. É preciso uma luta diária, constante. E cansamos, desanimamos, desistimos ou paralisamos.

Opa! Esperem um pouco…

Relendo o parágrafo acima me questionei sobre duas palavras que escrevi.

Sucesso. O que representa isso para mim? Será que é o mesmo que para você? Tudo parece apontar para que sucesso seja traduzido por dinheiro, fama, posição social. Para alguns deve ser, mas não para todos. Mas todos os dias somos levados a acreditar que se não ganharmos mais dinheiro, não formos promovidos, não seguirmos subindo não estamos tendo sucesso. Acabamos por entrar nesse movimento de forma inconsciente e nos impor uma rotina estressante, de correria em busca de algo que nem sabemos ao certo se queremos. Nada contra ganhar dinheiro. Gosto bastante. A questão é estabelecer prioridades, e definir do que estamos dispostos a abrir mão para isso. O que me leva a segunda palavra.

Luta. Porque temos que estar sempre em guerra? Contra o tempo, por exemplo. Para fazer tudo que “precisamos”. Academia, sair com os amigos, namorar, cuidar dos filhos, passear o cachorro, ler o livro, assistir o filme, entregar o relatório, fazer o curso, conseguir a promoção, conquistar mais um cliente, escrever o artigo, e por aí vai.

Vou reescrever parte do parágrafo. (…) a vida é boa e pode ser melhor, conquistar o que desejamos está ao alcance de todos nós. Todos os dias podemos recomeçar, fazer novas escolhas ou renovar as que já fizemos. Todos os dias temos coisas pelas quais agradecer. Todos os dias aprendemos algo, nos modificamos. Nem sempre vamos conseguir tudo o que queremos, ou dar conta de fazer tudo a que nos propomos, mas podemos ser gratos por tudo o que conseguimos realizar e acreditar que podemos continuar fazendo.

Melhor assim, não acham?

De fevereiro do ano passado até agora escrevi 50 artigos, sobre os mais variados temas. Para mim isso é um sucesso. Tem gente que escreveu muito mais do que eu, talvez melhor do que eu. Tem gente que escreveu muito menos do que eu. Tudo bem.

Eu estou fazendo o meu melhor e se nesses últimos dias não consegui escrever não tem problema, pois não escrevi artigos, mas fiz inúmeras outras coisas a que me propus.

O que estou querendo dizer é que vamos nos cobrar um pouco menos, reconhecer e celebrar o que temos realizado, perdoar as falhas e seguir em frente. Porque viver é isso: seguir em frente, um dia de cada vez.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Comportamento, Geral, Reflexão

SINAL DOS TEMPOS

A revista Veja desta semana tenta responder a pergunta: Conexão faz mal a saúde? Algumas pesquisas, segundo a revista, indicam que o uso da tecnologia acentua alguns problemas em jovens.

Essa é uma dúvida recorrente no consultório. O quanto os filhos podem ou não ficar conectados, se jogos de videogame são ruins e deveriam ser proibidos, a dificuldade de dar limite aos adolescentes no uso das redes sociais, etc.

Acredito que a maioria das coisas não são por si só nocivas. O uso que nós fazemos delas é que pode ser, e muito.

Existem vários jogos de videogame que são interessantes e divertidos. O que não pode é permitir que a criança fique horas a fio jogando. Ela precisa de uma multiplicidade de experiências para se desenvolver de forma saudável. Precisa brincar ao ar livre, jogar bola, faz de conta, jogos em grupo, etc. Precisa também um tempo para não fazer nada, ficar ociosa. Todas essas atividades contribuem para o seu desenvolvimento.

Isso é cada vez mais difícil. A agenda dos pequenos é cheia de uma infinidade de compromissos e o volume de lição de casa sempre me espanta. As crianças têm cada vez menos tempo de viver a infância. Além disso uma criança vidrada na tela do celular, tablete ou outro é uma criança entretida, que não pergunta, não incomoda, não atrapalha…

As redes sociais estão aí e não há como impedir um jovem de acessar o facebook, snap, instagram, whatsapp, etc. O importante é orientar o filho sobre o uso excessivo, sobre os riscos que ele corre, e ter acesso ao que ele posta e vê. Limite também é importante. Respeitar a hora das refeições, por exemplo.

Para isso, no entanto, é preciso que os pais deem o exemplo. Como exigir dos filhos um controle se o pai passa boa parte do seu tempo em casa jogando, ou se a mãe não fica longe do celular um instante?

Isso também é difícil. Refeição em família? Cada dia mais raro. Ocupar-se dos filhos, estar atento ao que eles veem, aonde vão, às suas companhias parece não ser mais importante. Percebo os jovens cada vez mais soltos. É preocupante. É importante que pais e filhos conectem-se uns aos outros, não através de aparelhos, mas ao vivo e a cores, partilhando de momentos juntos.

Tem sido dada às crianças e aos adolescentes uma liberdade precipitada sem responsabilidades em contrapartida. Assumem escolhas cada vez mais precocemente, sem necessariamente estarem preparados para isso.

É uma pena, porque estamos encurtando a infância, antecipando a adolescência, acelerando as coisas e depois tentamos retardar a velhice. Não seria melhor se pudéssemos viver plenamente cada uma das fases da vida, em toda sua riqueza e plenitude?

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RAZÕES PARA A BALEIA SER AZUL

O jogo da Baleia Azul e o seriado Thirteen Reasons Why, ambos dirigidos ao público adolescente, trazem a tona um tema difícil, mas que precisa ser tratado. Não acredito que nenhum deles tenha a capacidade de fazer com que um jovem atente contra a própria vida. Mas acredito que para aqueles que, envoltos em dor e desesperança, já pensam seriamente no assunto eles sirvam como a justificativa que falta.

Não quero falar do jogo ou do seriado, mas refletir sobre o que leva um adolescente a querer se matar.

A adolescência é um fase de transição, de mudanças profundas e, por isso, de fragilidade. O adolescente vive entre dois mundos. Passa pelo luto de abandonar a infância, as brincadeiras, a leveza. Não são mais crianças e, por isso, não lhes é mais permitido agir como tal.

No entanto, ainda não são adultos. Não tem a autonomia e a liberdade que os adultos têm de determinar a sua vida. Aquilo que, a princípio, lhes parece o melhor da vida adulta, lhes é negado. Por outro lado, lhes cobram um comportamento mais responsável e congruente.

O corpo muda, os pais mudam sua forma de tratá-los, os amigos mudam, o mundo a sua volta muda. Ao término dessa fase precisam ter definido sua identidade, sua sexualidade, sua profissão.

Para lidar com tudo isso o adolescente torna-se rebelde ou se isola, questiona e critica. Momento complexo para todos os envolvidos.

Uma das principais tarefas a realizar nesse período é separar-se dos pais. Não fisicamente, mas afetivamente. É perceber que os pais são humanos e não heróis. É discordar deles, pensar diferente, encontrar o seu repertório de atitudes e valores. É lapidar e dar contornos ao adulto que virá a ser.

Para fazer isso o adolescente tem a necessidade de contrapor-se, de confrontar.

Para que todas essas mudanças aconteçam da forma mais tranquila possível é preciso que o adolescente sinta-se protegido e seguro. Ele precisa de limite!!

Um limite amoroso que faça com que ele se sinta cuidado. Ele está se transformando, enfrentando um universo de novidades e precisa sentir que existe uma rede de segurança a sua volta.

Essa rede tem nome: pais. Infelizmente, muitos jovens não podem contar com ela, pois muitos pais estão abrindo mão do seu papel para se tornarem “amigos” dos filhos. Amigos eles têm muitos! Pai só um. Mãe só uma.

Ser pai de adolescente implica em ser chato, antiquado, retrógrado. Implica em críticas, mau humor, cara amarrada, birra, portas batendo, etc. Implica em ser a rede da qual o jovem vai, aos poucos, afrouxando os nós, mas que está ali para lhes dar segurança e, por isso mesmo, leva o maior impacto.

Quando os pais abandonam o seu lugar deixam o adolescente desprotegido. Ele não está preparado psiquicamente, neurologicamente para lidar com isso. Não está suficientemente amadurecido. Precisa de orientação, de cuidado. Não poder contar com essa rede pode ser desesperador e angustiante. É enfrentar uma batalha sem estar preparado, sem ter as armas necessárias, sem ter orientação.

Não ser a rede que dá sustentação e segurança é deixar essa posição livre para ser ocupada por outro agente. Uma gangue de adolescentes, as drogas e o álcool, adultos abusadores, etc. O adolescente precisa de limite e vai buscá-lo até encontrar. Se não encontra na família, encontrará na polícia, no hospital psiquiátrico, na morte.

Ser pai de adolescente é desafiador, mas é rico em aprendizado. Viver esse período de forma um pouco mais tranquila é fruto de todo um investimento afetivo, e de limite também, feito ao longo da infância.

A recompensa é ver os filhos se tornarem adultos responsáveis, produtivos. Com escolhas diferentes, mas igualmente ricas em possibilidades. É saber-se nem expectador, nem diretor. Talvez ajudante de palco, que dá ao ator principal a condição necessária para brilhar.

Pais e Autismo
Comportamento, Geral, Reflexão

ESCOLHENDO A ESPERANÇA

No dia 02 de abril foi o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Todas as ações que levem as pessoas a falarem, refletirem, conhecerem e entenderem qualquer tipo de patologia são válidas e necessárias.

Receber um diagnóstico desses é devastador para os pais. O chão desmorona e junto com ele todos os sonhos a respeito do futuro do filho. Incerteza, medo, angústia, luto… são muitos os sentimentos.

Passado o primeiro impacto sobrevêm as dúvidas. Muitas. O que fazer? Que profissionais procurar? Qual a melhor linha de tratamento? Quem é o melhor especialista? A escola vai dar conta?

Hoje os pais têm uma especial ajuda da Internet e buscam, ávidos, informações. Vão participar de comunidades, vão conversar com outros pais.

Aos poucos as coisas se acalmam e é possível olhar para o filho e começar a fazer escolhas, priorizar trabalhos, adequar o orçamento e a rotina à nova realidade.

E é nesse momento que os pais fazem, de forma inconsciente na maioria das vezes, a principal escolha. Aquela que vai ser determinante para o tratamento e para o futuro do filho. Os pais vão escolher entre ter pena do filho, e de si mesmos em certa medida, ou acreditar que ele tem um futuro rico de possibilidades pela frente.

Vão escolher entre superproteger o filho ou acreditar no seu potencial e construir, pouco a pouco, a sua autonomia.

Parece lugar comum, mas é escolher entre o copo meio vazio ou o copo meio cheio. Porque não importa quão grave e limitante seja o diagnóstico, sempre existem possibilidades e o ser humano tem uma capacidade incrível de superação e de se reinventar.

E é essa escolha que vai determinar o futuro do filho. Existem inúmeros exemplos de superação e realização de pessoas com as mais diferentes limitações físicas, intelectuais ou psíquicas. Em todas elas existem pais que, apesar das incertezas e da dor, escolheram aceitar, amar e acreditar no seu filho, olhando sempre para as possibilidades e focando no desenvolvimento daquilo que a criança tem de melhor.