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Análise Corporal da Relação, Comportamento, Geral, Reflexão

PEIXE INTEIRO NÃO CABE NO FORNO.

 

A família de Julia gostava muito de comer peixe assado. Era uma tradição dos almoços de domingo. Um dia Julia perguntou à sua mãe porque elas sempre cortavam a cabeça e o rabo do peixe antes de assá-lo. A mãe explicou que aprendeu a fazer o peixe dessa forma com a avó de Julia. Ainda intrigada, Julia foi perguntar a sua avó porque cortavam a cabeça e o rabo do peixe. A avó explicou que quando se casou o seu forno era muito pequeno e o peixe inteiro não cabia, assim ela cortava a cabeça e o rabo para poder assar o peixe. Há muitos anos que o forno da avó de Julia, bem como o da mãe e o dela, tem tamanho suficiente para assar o peixe inteiro, mas eles continuavam a perder a cabeça e o rabo. Se Julia não fosse curiosa é provável que suas filhas e suas netas também assassem seus peixes sem cabeça ou rabo. E como a essa altura a avó já não estaria por perto, nunca saberiam porque era feito dessa forma.

Dando aula essa semana sobre percepção e paradigmas, lembrei dessa história que me foi contada alguns anos atrás. Tenho refletido muito sobre o tema nos últimos tempos (não sobre qual a melhor forma de assar peixes, mas sobre paradigmas). Quantas coisas fazemos todos os dias por hábito, porque aprendemos que era o jeito certo de fazer e não questionamos? Quantas oportunidades perdemos porque não arriscamos uma jeito diferente de fazer as coisas? Quantas experiências ricas, divertidas perdemos porque elas fogem do roteiro? Quantas pessoas inteligentes, interessantes deixamos de conhecer porque não correspondem ao padrão?

Nós seres humanos precisamos de uma certa rotina, de alguns referenciais de segurança para podermos viver. Não daríamos conta se a cada dia tudo fosse novo e diferente. Mas isso não significa que precisamos ficar presos a coisas que foram válidas e boas num dado momento, mas que hoje não são mais.

Alguém disse que não podemos mergulhar duas vezes no mesmo rio, porque ele não será o mesmo, nem nós seremos os mesmos. Isso é verdade. Aquilo que preciso, que gosto na minha infância, é diferente do que preciso e gosto na adolescência ou na vida adulta.

A minha ideia não é fazer tudo diferente, jogar para o alto todas as certezas e hábitos, mas .questionar para saber se ainda é válido, se ainda é bom, se ainda quero as coisas da mesma forma

Assisti essa semana uma fala de Ricardo Semler no Ted em 2015. Ele sugere que nos perguntemos “por que?” não uma, mas três vezes. Na primeira vez a resposta virá fácil e pronta. Na segunda já ficaremos em dúvida. Na terceira talvez não encontremos resposta. E depois ele sugere que façamos uma outra pergunta: “para que?”. Qual o propósito que isso tem na minha vida?

Questionar-se é complexo e, muitas vezes, incômodo. Acredito, no entanto, que é melhor do que acordar um dia e ver que tudo mudou a nossa volta, que a vida seguiu em frente, e nós ficamos parados, repetindo os mesmo erros, fazendo as mesmas coisas…

Existem coisas que não podem e não devem mudar. São poucas, muito poucas.

Desejo sinceramente que possamos comer peixe assado com rabo e cabeça ou sem, peixe frito, cozido, com diferentes molhos e temperos. Que possamos experimentar outros pratos, outros sabores, outras cores, outras músicas, outras formas, outros jeitos. E escolher as que mais gostamos, as que nos fazem sentir melhor, que nos fazem vibrar. Aquelas que fazem a vida valer a pena.

 

 

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Comportamento, Geral, Reflexão

CRIANÇA PRECISA BRINCAR!

Nada é por acaso. Queria escrever sobre crianças e a escola. Hoje quando fui ler o jornal me deparo com uma reportagem que fala de alguns mitos sobre o cérebro e aprendizagem. Foi muito bom ver que algumas das minhas crenças têm fundamento.

Um dos mitos de que o artigo fala é o de que quanto mais tempo na escola, maior é a aprendizagem. Falso. Quantidade não é qualidade!

Na minha prática profissional, atendendo crianças, sempre me incomodou a quantidade de horas envolvidas em estudos, seja na escola, seja em aulas extras. Outra coisa que sempre me choca é a quantidade de lição de casa que as crianças têm. Sem falar no peso das mochilas!!! E isso desde a Educação Infantil (só piora com o passar dos anos).

Criança precisa brincar! Precisa explorar e ter contato com o maior número e as mais variadas experiências. Ela é curiosa por natureza. Quer saber, quer experimentar, quer conhecer. E usa o seu corpo para isso. Precisa tocar, mexer, ouvir, ver, sentir. Ela aprende brincando, experimentando.

Os pais e a escola preocupados com o futuro acreditam que o quanto antes elas aprenderem a ler e escrever, souberem outro idioma, forem excelentes em matemática, etc., mais chances terão de sucesso no mercado de trabalho. Expõem a criança ao stress de que tanto reclamam. Justamente ao contrário.

Aprender, ao longo dos anos, vai se tornando uma coisa chata, piorando cada vez mais conforme a criança avança na escola. Dou aula de graduação e pós-graduação e é muito triste ver que os alunos não querem aprender, não são curiosos, não me desafiam como professora. Eles só querem tirar uma nota e passar. Um profissional que não gosta de aprender, que não se atualiza sempre, não é o que o mercado busca.

Fui ler um pouco mais sobre o assunto e num artigo na Universidade de Barcelona é reforçado o papel das emoções na aprendizagem. Quanto mais prazer, quanto mais alegres nos sentimos ao aprender, mais facilmente os conteúdos serão retidos e mais motivados estaremos para continuar a aprender.

Além de brincar a criança precisa de um tempo sem fazer nada, ocioso. Mas numa agenda lotada isso não é possível.

No artigo da semana passada falei que estamos encurtando a infância. A pressão por uma aprendizagem precoce, desvinculada dos interesses da criança, sem alegria tem contribuído para isso.

A infância é um pequeno período de nossas vidas. Ela deve ser vivida intensamente. É nela que se constrói a base que vai sustentar todo o restante. Portanto, deve ser respeitada, cuidada e protegida.