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Comportamento, Geral, Reflexão

VIDA

Semana passada li duas reportagens que me impactaram. Ambas falavam de escolha.

A primeira trazia a notícia da morte da professora Ana Beatriz Cerisara. A escolha de Ana Beatriz foi a “Boa Morte”. Viver seus últimos dias de vida, em sua casa, perto das pessoas que ama. Escolheu viver o dia de sua morte. Escolheu acolher todos os sentimentos que esse tema traz: medo, angústia, saudade, alegria de estar com os seus, serenidade…

Ao vivenciar na família a experiência de uma doença progressiva nos questionamos inúmeras vezes até onde devemos investir na manutenção da vida. Ainda que não queiramos que as pessoas que amamos nos deixem, temos que considerar que a partida, inevitável, deve ser o mais tranquila e digna possível. Deve ser muito melhor ir no conforto de nossa casa, envolta em amor, do que na impessoalidade de um hospital, cercado de estranhos.

Nem sempre nos é dada a opção de escolha. Ana Beatriz pode escolher.

A segunda falava do ingresso no curso de arquitetura do Centro Universitário Barão de Mauá de Carlos Augusto Manço. O que torna essa notícia especial é a idade de Carlos Augusto: 90 anos!!

Outra escolha.

Normalmente as pessoas entram na faculdade para fazer ter uma profissão, entrarem no mercado de trabalho, construírem uma carreira. A princípio, esse não será o caso. Para ele é a realização de um sonho e pronto. Muitos poderiam pensar que com sua idade Carlos Augusto agora deveria aproveitar para descansar, não fazer nada. Escolheu estudar.

Uma de minhas avós dizia que enquanto você tiver um sonho você tem vida. Concordo com ela. Desejar algo e buscar a sua realização é o que nos mantém vivos.

A escolha de Ana Beatriz e Carlos Augusto foi pela vida! Por estar presente e desfrutar de tudo o que ela tem a oferecer até o último momento, inclusive da morte.

Para mim os dois são um exemplo.

Estar vivo é uma dádiva que, por tomarmos como garantida, nem sempre desfrutamos como poderíamos. Vamos aproveitar esses exemplos para refletir sobre nossas escolhas, para aproveitarmos cada momento de nossa vida, desde hoje, desde agora.

Porque como dizia o poeta: “…é a vida, é bonita e é bonita!”

 

Nota 1: a senhora da foto que ilustra esse texto é minha madrinha. Tinha nessa foto 99 anos. Hoje com 101 ainda desfruta da vida plenamente, aproveitando todas as oportunidades para passear e viajar com sua filha e sua neta. Um exemplo para todos nós da família.

Nota 2: A foto é de autoria de Bebel Ritzmann.

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Comportamento, Geral, Reflexão

RAZÕES PARA A BALEIA SER AZUL

O jogo da Baleia Azul e o seriado Thirteen Reasons Why, ambos dirigidos ao público adolescente, trazem a tona um tema difícil, mas que precisa ser tratado. Não acredito que nenhum deles tenha a capacidade de fazer com que um jovem atente contra a própria vida. Mas acredito que para aqueles que, envoltos em dor e desesperança, já pensam seriamente no assunto eles sirvam como a justificativa que falta.

Não quero falar do jogo ou do seriado, mas refletir sobre o que leva um adolescente a querer se matar.

A adolescência é um fase de transição, de mudanças profundas e, por isso, de fragilidade. O adolescente vive entre dois mundos. Passa pelo luto de abandonar a infância, as brincadeiras, a leveza. Não são mais crianças e, por isso, não lhes é mais permitido agir como tal.

No entanto, ainda não são adultos. Não tem a autonomia e a liberdade que os adultos têm de determinar a sua vida. Aquilo que, a princípio, lhes parece o melhor da vida adulta, lhes é negado. Por outro lado, lhes cobram um comportamento mais responsável e congruente.

O corpo muda, os pais mudam sua forma de tratá-los, os amigos mudam, o mundo a sua volta muda. Ao término dessa fase precisam ter definido sua identidade, sua sexualidade, sua profissão.

Para lidar com tudo isso o adolescente torna-se rebelde ou se isola, questiona e critica. Momento complexo para todos os envolvidos.

Uma das principais tarefas a realizar nesse período é separar-se dos pais. Não fisicamente, mas afetivamente. É perceber que os pais são humanos e não heróis. É discordar deles, pensar diferente, encontrar o seu repertório de atitudes e valores. É lapidar e dar contornos ao adulto que virá a ser.

Para fazer isso o adolescente tem a necessidade de contrapor-se, de confrontar.

Para que todas essas mudanças aconteçam da forma mais tranquila possível é preciso que o adolescente sinta-se protegido e seguro. Ele precisa de limite!!

Um limite amoroso que faça com que ele se sinta cuidado. Ele está se transformando, enfrentando um universo de novidades e precisa sentir que existe uma rede de segurança a sua volta.

Essa rede tem nome: pais. Infelizmente, muitos jovens não podem contar com ela, pois muitos pais estão abrindo mão do seu papel para se tornarem “amigos” dos filhos. Amigos eles têm muitos! Pai só um. Mãe só uma.

Ser pai de adolescente implica em ser chato, antiquado, retrógrado. Implica em críticas, mau humor, cara amarrada, birra, portas batendo, etc. Implica em ser a rede da qual o jovem vai, aos poucos, afrouxando os nós, mas que está ali para lhes dar segurança e, por isso mesmo, leva o maior impacto.

Quando os pais abandonam o seu lugar deixam o adolescente desprotegido. Ele não está preparado psiquicamente, neurologicamente para lidar com isso. Não está suficientemente amadurecido. Precisa de orientação, de cuidado. Não poder contar com essa rede pode ser desesperador e angustiante. É enfrentar uma batalha sem estar preparado, sem ter as armas necessárias, sem ter orientação.

Não ser a rede que dá sustentação e segurança é deixar essa posição livre para ser ocupada por outro agente. Uma gangue de adolescentes, as drogas e o álcool, adultos abusadores, etc. O adolescente precisa de limite e vai buscá-lo até encontrar. Se não encontra na família, encontrará na polícia, no hospital psiquiátrico, na morte.

Ser pai de adolescente é desafiador, mas é rico em aprendizado. Viver esse período de forma um pouco mais tranquila é fruto de todo um investimento afetivo, e de limite também, feito ao longo da infância.

A recompensa é ver os filhos se tornarem adultos responsáveis, produtivos. Com escolhas diferentes, mas igualmente ricas em possibilidades. É saber-se nem expectador, nem diretor. Talvez ajudante de palco, que dá ao ator principal a condição necessária para brilhar.