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Comportamento, Geral, Reflexão

RAZÕES PARA A BALEIA SER AZUL

O jogo da Baleia Azul e o seriado Thirteen Reasons Why, ambos dirigidos ao público adolescente, trazem a tona um tema difícil, mas que precisa ser tratado. Não acredito que nenhum deles tenha a capacidade de fazer com que um jovem atente contra a própria vida. Mas acredito que para aqueles que, envoltos em dor e desesperança, já pensam seriamente no assunto eles sirvam como a justificativa que falta.

Não quero falar do jogo ou do seriado, mas refletir sobre o que leva um adolescente a querer se matar.

A adolescência é um fase de transição, de mudanças profundas e, por isso, de fragilidade. O adolescente vive entre dois mundos. Passa pelo luto de abandonar a infância, as brincadeiras, a leveza. Não são mais crianças e, por isso, não lhes é mais permitido agir como tal.

No entanto, ainda não são adultos. Não tem a autonomia e a liberdade que os adultos têm de determinar a sua vida. Aquilo que, a princípio, lhes parece o melhor da vida adulta, lhes é negado. Por outro lado, lhes cobram um comportamento mais responsável e congruente.

O corpo muda, os pais mudam sua forma de tratá-los, os amigos mudam, o mundo a sua volta muda. Ao término dessa fase precisam ter definido sua identidade, sua sexualidade, sua profissão.

Para lidar com tudo isso o adolescente torna-se rebelde ou se isola, questiona e critica. Momento complexo para todos os envolvidos.

Uma das principais tarefas a realizar nesse período é separar-se dos pais. Não fisicamente, mas afetivamente. É perceber que os pais são humanos e não heróis. É discordar deles, pensar diferente, encontrar o seu repertório de atitudes e valores. É lapidar e dar contornos ao adulto que virá a ser.

Para fazer isso o adolescente tem a necessidade de contrapor-se, de confrontar.

Para que todas essas mudanças aconteçam da forma mais tranquila possível é preciso que o adolescente sinta-se protegido e seguro. Ele precisa de limite!!

Um limite amoroso que faça com que ele se sinta cuidado. Ele está se transformando, enfrentando um universo de novidades e precisa sentir que existe uma rede de segurança a sua volta.

Essa rede tem nome: pais. Infelizmente, muitos jovens não podem contar com ela, pois muitos pais estão abrindo mão do seu papel para se tornarem “amigos” dos filhos. Amigos eles têm muitos! Pai só um. Mãe só uma.

Ser pai de adolescente implica em ser chato, antiquado, retrógrado. Implica em críticas, mau humor, cara amarrada, birra, portas batendo, etc. Implica em ser a rede da qual o jovem vai, aos poucos, afrouxando os nós, mas que está ali para lhes dar segurança e, por isso mesmo, leva o maior impacto.

Quando os pais abandonam o seu lugar deixam o adolescente desprotegido. Ele não está preparado psiquicamente, neurologicamente para lidar com isso. Não está suficientemente amadurecido. Precisa de orientação, de cuidado. Não poder contar com essa rede pode ser desesperador e angustiante. É enfrentar uma batalha sem estar preparado, sem ter as armas necessárias, sem ter orientação.

Não ser a rede que dá sustentação e segurança é deixar essa posição livre para ser ocupada por outro agente. Uma gangue de adolescentes, as drogas e o álcool, adultos abusadores, etc. O adolescente precisa de limite e vai buscá-lo até encontrar. Se não encontra na família, encontrará na polícia, no hospital psiquiátrico, na morte.

Ser pai de adolescente é desafiador, mas é rico em aprendizado. Viver esse período de forma um pouco mais tranquila é fruto de todo um investimento afetivo, e de limite também, feito ao longo da infância.

A recompensa é ver os filhos se tornarem adultos responsáveis, produtivos. Com escolhas diferentes, mas igualmente ricas em possibilidades. É saber-se nem expectador, nem diretor. Talvez ajudante de palco, que dá ao ator principal a condição necessária para brilhar.

Parceria
Comportamento, Geral, Reflexão

O VERDADEIRO SENTIDO DE UMA PARCERIA

Estive no Rio Grande do Sul, em Nova Petrópolis, este final de semana participando do 4° Encontro de Facilitadores Experenciais. Fui convidada a participar e mostrar um pouco do meu trabalho.

Foi um final de semana muito produtivo, de muito aprendizado e muita troca. Foi bom conhecer profissionais que desenvolvem um trabalho sério e estão comprometidos com a qualidade do serviço e do produto a ser entregue. Um final de semana de ideias, debates, encontros, laços, enfim de parceria.

Considero-me uma pessoa de sorte, pois tenho encontrado, ao longo da minha vida profissional, pessoas fantásticas com quem tenho estabelecido parcerias produtivas e amizades duradouras.

Fala-se bastante sobre parceria, como é importante, principalmente quando estamos falando de trabalho e organizações.

Tenho dúvidas se as pessoas realmente entendem o que significa parceria. Procurando no dicionário encontramos: relação de colaboração entre duas ou mais pessoas com vista à realização de um objetivo comum.

Parceria é colaboração, cooperação, ajudar, participar, apoiar.

Para que uma parceria aconteça eu acredito que algumas condições precisam estar presentes. Primeiro ter um objetivo em comum. Algo que se deseje realizar e que será melhor, mais prazeroso ou mais facilmente realizado em conjunto. Seguir numa mesma direção.

É importante estar disponível para o outro. Para verdadeiramente escutar o outro (suas ideias, receios), aceitar o outro (com suas qualidades e limitações). Estar aberto não só para receber, mas para entregar ao outro o que você tem de melhor. Uma parceria não acontece se uma das partes não está por inteiro, ou tem reservas, ou sejam, é necessário confiar. Sem confiar no outro uma verdadeira parceria não se estabelece. Uma relação franca, onde a comunicação flui, sem entraves. Onde se pode dizer o que se pensa e acredita.

É preciso fortalecer os laços para que eles suportem as divergências e os conflitos que irão ocorrer.

Talvez não seja a forma mais fácil de atingir um objetivo ou realizar algo, mas com certeza é uma forma mais rica em possibilidades e aprendizado.

Eu adoro trabalhar em parceria, onde o outro faz com que eu brilhe no que tenho de melhor, me complementa no que me falta e me permite fazer o mesmo por ele.

Pais e Autismo
Comportamento, Geral, Reflexão

ESCOLHENDO A ESPERANÇA

No dia 02 de abril foi o Dia Mundial de Conscientização do Autismo. Todas as ações que levem as pessoas a falarem, refletirem, conhecerem e entenderem qualquer tipo de patologia são válidas e necessárias.

Receber um diagnóstico desses é devastador para os pais. O chão desmorona e junto com ele todos os sonhos a respeito do futuro do filho. Incerteza, medo, angústia, luto… são muitos os sentimentos.

Passado o primeiro impacto sobrevêm as dúvidas. Muitas. O que fazer? Que profissionais procurar? Qual a melhor linha de tratamento? Quem é o melhor especialista? A escola vai dar conta?

Hoje os pais têm uma especial ajuda da Internet e buscam, ávidos, informações. Vão participar de comunidades, vão conversar com outros pais.

Aos poucos as coisas se acalmam e é possível olhar para o filho e começar a fazer escolhas, priorizar trabalhos, adequar o orçamento e a rotina à nova realidade.

E é nesse momento que os pais fazem, de forma inconsciente na maioria das vezes, a principal escolha. Aquela que vai ser determinante para o tratamento e para o futuro do filho. Os pais vão escolher entre ter pena do filho, e de si mesmos em certa medida, ou acreditar que ele tem um futuro rico de possibilidades pela frente.

Vão escolher entre superproteger o filho ou acreditar no seu potencial e construir, pouco a pouco, a sua autonomia.

Parece lugar comum, mas é escolher entre o copo meio vazio ou o copo meio cheio. Porque não importa quão grave e limitante seja o diagnóstico, sempre existem possibilidades e o ser humano tem uma capacidade incrível de superação e de se reinventar.

E é essa escolha que vai determinar o futuro do filho. Existem inúmeros exemplos de superação e realização de pessoas com as mais diferentes limitações físicas, intelectuais ou psíquicas. Em todas elas existem pais que, apesar das incertezas e da dor, escolheram aceitar, amar e acreditar no seu filho, olhando sempre para as possibilidades e focando no desenvolvimento daquilo que a criança tem de melhor.

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Comportamento, Geral, Reflexão

EM CASO DE TRISTEZA: CHORE.

Vivemos numa época em que ser feliz é um imperativo. Todos precisamos ser felizes a cada minuto do dia, como num anúncio de margarina (além de jovens e sarados). Isso é impossível e indesejável.

Como sabemos que algo é doce? Porque experimentamos o amargo. Como sabemos que é frio? Porque já experimentamos o quente. Da mesma forma só poderemos reconhecer a alegria se tivermos experimentado a tristeza.

Muitos pais tentam poupar seus filhos das frustrações inerentes a vida, para que eles não sofram, não fiquem tristes. No entanto, isso é inevitável. Não temos tudo que queremos, na hora e do jeito que queremos. A frustração e o erro são certezas. E dependendo da importância que damos àquilo que não conseguimos ou perdemos ficaremos um pouco tristes, muito tristes ou não ligaremos. Faz parte da vida.

Quando permitimos que as crianças fiquem tristes, chorem, vivam a frustração e as acompanhamos de forma afetiva nesse processo, nós as fortalecemos e lhes preparamos para a vida adulta.

Na adolescência as tristezas são vividas intensa e dramaticamente (como quase tudo). Novamente é importante permitir-lhes viver suas dores de crescimento, seu luto existencial. Ajudá-los a lidar com isso e, mais uma vez, preparar para a vida adulta.

Uma das justificativas para tentar impedir que as crianças e adolescentes (e até mesmo os adultos) fiquem tristes é o medo da depressão.

Tristeza não é depressão. Depressão é uma doença séria, tristeza faz parte da vida.

A tristeza precisa ser vivida. Algumas passarão com um chocolate, um abraço apertado ou um passeio no parque. Outras precisarão de um pouco mais… As tristezas precisam ser choradas, precisam escorrer para fora e lavar a alma no processo. Dói? Dói, mas dói menos vivê-la do que fazer de conta que ela não existe ou sufocá-la com falsa alegria.

Um tristeza mal vivenciada, essa sim, pode se transformar em doença. Porque o nosso corpo trabalha assim. Ele precisa expressar as emoções e se não permitimos ele vai fazê-lo em forma de doença.

Existe uma analogia de que gosto muito. Quando monitoramos os batimentos cardíacos temos um gráfico com altos e baixos. Isso significa que há vida. Quando o gráfico é uma linha reta a vida acabou. E é assim. Para nos sentirmos vivos temos que alternar momentos de alegria e tristeza, raiva e amor, ânimo e desânimo. Um estado perene de qualquer sentimento, mesmo a alegria, seria insuportável. Muitas vezes é de uma crise, de uma tristeza profunda que damos o salto em direção à realização, que passamos a compreender o que realmente é importante para nós, que começamos a construir a felicidade que desejamos.

Portanto, em caso de tristeza: chore.

 

 

 

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Reflexão

AS TRÊS FACES DE EVA

Ao longo de minha formação profissional muitas vezes busquei compreender o universo feminino, sua complexidade e nuances. O Dia Internacional da Mulher parece ser um bom momento para compartilhar algumas dessas reflexões.

O título escolhido para o artigo reflete a crença de que em cada mulher residem três faces, três possibilidades de ser e estar no mundo, três maneiras de se relacionar com o outro. A cada etapa da vida e circunstâncias do momento uma dessas faces tomará a frente, estará em destaque. Algumas de nós, por força do modelo que tivemos e das experiências vividas, teremos uma dessas faces mais desenvolvidas, o que não significa que as outras duas não estejam disponíveis para nos ajudar a construir a vida e as relações que desejamos.

Em alguns momentos quem toma a dianteira é a Mulher Mãe. Não estou falando apenas da mulher que experimenta a maternidade propriamente dita, mas desta face que todas temos dentro de nós e que aparece nos cuidados com o outro, no acolhimento das dores, aflições e tristezas seja de um filho, seja do companheiro, seja de uma amiga, cliente ou paciente.

Que surge na partilha das alegrias, das conquistas e das vitórias. Num gesto de carinho, num café coado, num bolo assado… Nas flores cuidadosamente arranjadas num vaso, na transformação de um imóvel num lar.

Falo da mulher que tece teias, costura fios unindo as pessoas, as famílias, fazendo e fortalecendo os vínculos e os laços de afeto e carinho.

Em outros momentos quem toma a dianteira é a Mulher Fálica. Uma mulher forte, que arregaça as mangas e vai à luta. Que é profissional, que trabalha, que constrói, que conquista. Que enfrenta as adversidades, que supera os obstáculos, que se posiciona e luta pelo que acredita.

Que assume a sua vida, os cuidados e o sustento da família, que viaja sozinha, que vai aonde deseja, não tem medo de ficar só, que reconhece seu valor e seu poder e por isso mesmo não se sente ameaçada pelo poder do outro e não tem medo de compartilhar a sua vida com ele.

Uma mulher que saiu de um lugar de menos valia e conquistou os seus direitos, ocupou o seu espaço. Que não desiste, mas insiste, pois sabe do que é capaz.

E por fim, mas não menos poderosa, surge a Mulher Mulher, com seu corpo cheio de curvas, de suavidade e força. Uma mulher que é bela, não importa a forma ou o tamanho, que deseja e é desejada. Que seduz e se deixa seduzir. Que sente e dá prazer.

Uma mulher que traz consigo a força da vida e do encontro. Que exala pelos poros uma energia que envolve, um perfume que entontece. Que tem um calor que aquece e incendeia, que é forte e frágil, que é doce e apimentada. Que se entrega e aprisiona, que ama e apaixona.

Cada uma de nós tem dentro de si essas três mulheres. A cada momento, a cada etapa da vida uma se destacará, mas não é preciso que as outras deixem de existir. Quando reconhecemos a existência, a importância e o poder de cada uma, e permitimos que elas coexistam em harmonia encontramos a paz e o equilíbrio.

Desejo que cada mulher possa encontrar esse equilíbrio e possa viver plenamente a maravilha que é ser Mulher.