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Comportamento, Geral, Infância, Reflexão

Conversas em tempos de Pandemia 1

Olá!

Espero que vocês estejam bem.

Estamos passando por um momento singular. O mundo vive uma pandemia e nós estamos reclusos em casa por conta da quarentena que nos foi imposta. Precisamos cuidar das pessoas que amamos, de nossa comunidade e de nós mesmos.

Vivemos uma crise e temos que lidar com uma série de emoções e sentimentos. Medo, ansiedade, raiva, solidão, entre outros. A mudança na rotina e a convivência num espaço limitado o dia inteiro é um desafio.

Como para a maioria de vocês minha rotina também mudou. As aulas da faculdade estão suspensas e tive que me adaptar. Aprendi a dar aula online, criei atividades diferentes para que os alunos possam continuar com seu processo de formação e aprendizagem. Deixei de ir ao consultório. Os pacientes adultos e adolescentes tenho atendido online, mas as crianças e os pré-adolescentes estavam sem atendimento até essa semana.

A quarentena fez com que pais e filhos tenham que conviver em novas condições e com uma intensidade muito maior. Essa pode ser uma situação muito boa, de resgate, de estreitamento de laços, de redescoberta, porém também pode ser um tanto difícil para todos.

Sabendo disso entrei em contato com os pais para saber como estavam e para dar um apoio, quem sabe uma orientação, sugestões de atividades.

Fui surpreendida, pois as crianças e pré-adolescentes quiseram conversar. Marcamos um horário e cada um, na privacidade de seu quarto, conversou comigo. Eles me mostraram que eles também estão tendo algumas dificuldades e incertezas nesse momento.

Nos próximos artigos vou falar sobre o que podemos fazer para ajudá-los a atravessar essa tempestade com mais tranquilidade.

Um carinhoso abraço.

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FEMININA

Sou mulher e tenho a felicidade de conviver com muitas mulheres sejam elas de minha família, amigas, alunas, colegas, pacientes, colaboradoras…  Mulheres de todos os tipos. Algumas ainda são crianças, nem se sabem mulheres ainda. Outras jovens, algumas mais experientes e vividas. Vaidosas, peruas, despojadas, modernas, tradicionais. São todas diferentes, mas igualmente belas. Cada uma tem uma forma, um corpo, um jeito, um trejeito, uma maneira de ser. Todas únicas e, por isso, perfeitas na sua singularidade.

Observo os diversos papéis que elas assumiram em suas vidas. Todas são filhas. Umas desfrutam do cuidado de suas mães, outras tornaram-se mães de seus pais. Para algumas a maternidade é um sonho realizado, para outras desejado e para muitas não faz sentido. As relações de amor são de todos os tipos que a época em que vivemos permite. A grande maioria trabalha, cuidando da casa e da família, atuando nas mais diversas profissões ou as duas coisas.

Pobres, ricas ou da classe média todas fazem o possível para serem belas. Muitas não reconhecem a sua própria beleza e buscam o ideal inalcançável do fotoshop. Esquecem que são reais, que seus corpos contam sua história, que as marcas são das experiências vividas, dos encontros e desencontros.

Para mim são todas poderosas, ainda que algumas não se sintam dessa forma. Todas possuem o poder de ser mulher, do feminino. Um poder único.

Infelizmente esse poder não tem sido valorizado ou até mesmo reconhecido. Na luta pelo lugar de cidadã de direitos, pela liberdade de ser o que desejasse, de fazer as suas escolhas, de ir e vir, de realizar seu propósito de vida, de existir plenamente, muitas mulheres perderam o contato com esse poder que vem da essência do feminino. Confundiram ter os mesmos direitos que os homens, com ser iguais aos homens. Não somos.

Somos diferentes na forma, na textura, na biologia, na essência. Da mesma forma nosso poder, nossa força são diferentes. Nem melhor, nem pior. Nem mais, nem menos. Diferentes.

O poder feminino é o poder de gerar a vida em seu ventre e nutri-la em seu seio. O poder de conter afetivamente, não só o filho, mas todos a quem ama. De gerar ideias, de fazê-las crescer, dar frutos. De alimentar as relações, os sonhos – seus e de outros – com seu afeto, sua determinação.

O corpo de uma mulher foi nossa primeira morada e o feminino tem o poder de transformar em um lar a casa, onde somos bem-vindos, onde nossa dor é acolhida, nossas alegrias e realizações celebradas. Um lar onde podemos descansar, lamber as feridas, recuperar nossas forças. Lugar de onde saímos para o mundo e para onde podemos voltar.

A mulher tem o poder de criar vínculos, ligar os pontos, aproximar os distantes. Poder de tecer uma teia, não que aprisiona, mas que conecta, que sustenta, que protege. Da mesma forma que o filho se une ao seu corpo, ela tem o poder de unir as pessoas, fortalecer as relações.

É forte, capaz de defender seu filho, sua família, seus amigos, suas ideias.  E essa mesma força usa para realizar seus sonhos, construir a vida que deseja e merece, ir além.

Em alguns momentos emprestamos o poder masculino, pois a situação exige. Da mesma forma, eles emprestam nosso poder quando precisam. Tudo bem, desde que não renunciemos a nossa essência.

Quando entramos em contato com nosso poder, reconhecermos sua grandeza, sua força, sua beleza, quando o assumimos plenamente sem medo ou culpa, encontramos a paz e a felicidade de ser quem somos: mulheres.

Luiza Helena Rocha Brincar na Escola Site
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BRINCAR NA ESCOLA

Nos artigos deste mês tenho repetido o quanto brincar é importante para o desenvolvimento das crianças, que é algo sério e que deve ser respeitado e incentivado, especialmente nos primeiros anos da infância. É através do brincar que a criança descobre o mundo e suas possibilidades. Descobre a si mesma e todas as suas capacidades, vence desafios que vão ser a base de todo o aprendizado formal.

As crianças vão cada vez mais cedo para escola. E percebo o quanto a escolha dessa primeira escola pode ser difícil. Muitas vezes pais me perguntam qual a melhor opção. Sempre respondo que a melhor escola é aquela em que o filho é feliz.

No entanto, quando se trata da Educação Infantil existem alguns pontos que considero fundamentais.

A escola tem que passar segurança e tranquilidade aos pais, pois as crianças são muito pequenas, ainda bastante dependentes e os pais precisam confiar muito na escola para deixar seu filho lá. Para que a criança fique bem, os pais precisam estar seguros.

É importante que as turmas sejam pequenas, para que o professor possa dar a devida atenção para todos.

Uma área externa onde a criança possa brincar livremente, possa explorar, com grama, terra, areia, árvores. Se uma criança chega da escola sem sujeira no uniforme, areia dentro do tênis, um arranhão de vez em quando, ela não brincou o suficiente.

Que a escola não se preocupe em alfabetizar a criança o quanto antes. Como psicóloga e psicomotricista insisto em dizer que uma criança de 5 anos ainda não precisa fazer nenhuma atividade em folhas A4 que envolvam o traçado das letras. Ela deve usar papeis maiores, tintas, argila, todo o material que favoreça o desenvolvimento da sua consciência corporal, da coordenação motora global e fina. Se ela tiver tido oportunidade de viver intensamente o prazer psicomotor, o traçado e o aprendizado das letras e números acontecerá naturalmente.

Sei que algumas crianças são curiosas nesse sentido. Devem ter a sua curiosidade atendida, mas não devem ser ensinadas precocemente.

Não tenham pressa em ver seus filhos escrevendo e lendo. Quanto mais eles brincarem, explorarem os materiais e o espaço, mais facilmente aprenderão.

A infância é um período único na vida. Deve ser vivida intensamente, saboreada lentamente, desfrutada em todas as suas possibilidades.

Dessa forma a melhor escola é aquela que respeita a infância e permite que ela floresça, sem pressa, respeitando o ritmo de cada criança. Aquela onde o brincar é uma prioridade.

Luiza Helena Rocha Brincar Site
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BRINCAR, BRINCAR E BRINCAR!

Todo pai, toda mãe quer o melhor para os filhos. Faz parte desse desejo dar a eles, e se possível garantir, um futuro promissor. Querem que seus filhos sejam bem sucedidos, que eles tenham sucesso, que possam ter uma independência financeira que lhes aumente as possibilidades de escolha, garanta uma vida tranquila e segura. Querem que eles sejam felizes. Esse desejo é legítimo e natural.

Nessa busca procuram dar aos filhos a melhor educação e o melhor treinamento possível. Escolhem a melhor escola que conseguem pagar. A que tenha o melhor ensino, bilíngue (a tendência do momento), maior acesso a tecnologia e a que proporcione as melhores chances de sucesso no vestibular, afinal a concorrência é cada vez maior e o futuro depende da entrada na Universidade. Para isso também investem em uma série de outras atividades como Kumon, esportes – os mais variados como natação, futebol, judô e outras lutas marciais – aulas de dança, teatro, circo, música.

Esse excesso de atividades tem consequências sobre as quais quero refletir nesse e nos próximos artigos.

Crianças precisam de uma agenda, como os adultos, para organizar a quantidade de compromissos que elas têm. Infelizmente, sobra pouco espaço para o que é mais importante para elas: brincar.

Crianças precisam de tempo para brincar!

Quanto menores elas forem, mais tempo precisam. As maiores e os adolescentes também precisam de tempo livre para não fazer nada, para estar com os amigos, etc.

Por que é tão importante brincar? Porque enquanto brincam livres as crianças desenvolvem uma série de competências psicomotoras que são a base necessária para o aprendizado formal, sem as quais ele pode ser dificultado. E muito!

Através do simbolismo presente no faz de conta de suas brincadeiras as crianças treinam para vários papéis que exercerão ao longo da vida, aprendem a lidar com as emoções e processam alguns dos acontecimentos de sua vida real.

Através de seus jogos aprendem a vencer desafios, negociar, colaborar, estabelecer parcerias, defender seus pontos de vista. Exercitam a criatividade, descobrem o mundo, experimentam, afirmam-se. Brincar é uma das experiências mais ricas e importantes da infância!

Os adolescentes precisam de tempos livres para sonhar, para processar todas as mudanças pelas quais estão passando, para poderem, aos poucos, irem definindo o que querem para o seu futuro, fazendo suas escolhas.

Muitos autores atestam a importância de momentos de tédio, de não fazer nada. De olhar para o teto e sonhar…

Infelizmente com tantas atividades isso não é possível.

Soma-se a isso a onipresença dos celulares e tablets. Não sou contra a tecnologia, elas vieram para ficar e podem contribuir e muito com a educação e o desenvolvimento das crianças. O problema é a forma que ela está sendo utilizada. A falta de equilíbrio. Mas isso é assunto para outro artigo.

Por enquanto um apelo a todos os pais e mães: deixem tempo livre para que seus filhos possam brincar. Isso vai prepara-los para a vida feliz e realizada que vocês tanto desejam para eles.

Luiza Helena Rocha Infância 1 Site
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DO QUE UMA CRIANÇA PRECISA PARA CRESCER FELIZ?

As sementes se encontram e porque o sol e a chuva nutrem a planta, ela germina. Começa como pequeno botão, que vai se encorpando até que brota em bela e exuberante flor, com sua beleza e perfumes únicos, cheia de vida e alegria. Assim é a criança. Assim é a infância. Época de desabrochar, de desenvolver, de crescer. Época de alegria, curiosidade, de busca incessante pela vida, pelo conhecimento.

Essa analogia pode ser um pouco piegas, brega até, mas como as estações do ano e suas semelhanças com as etapas da vida foi o tema do último artigo, foi assim que esse se impôs em minha mente.

O fato é que a infância é uma época muito especial na vida de nós seres humanos. Da mais profunda dependência, que não nos permite sobreviver sem que alguém de nós se ocupe, vamos nos desenvolvendo e crescendo, aprendendo e aperfeiçoando até chegarmos a autonomia possível.

Algumas condições são necessárias para que tudo corra da melhor forma e todo o potencial se desenvolva. Alimentação, higiene, sono, etc., mas uma de fundamental importância para que esse processo siga na direção de um adulto feliz é o amor incondicional dos pais.

Toda criança precisa se saber, se sentir amada incondicionalmente. Isso não significa aceitar e atender todos os seus desejos, valorizar, como grande feito, qualquer de suas ações.

Esse amor do qual estou falando é aquele que aponta os erros, que reconhece os acertos. Que condena o mal feito, mas que não se apequena por causa deles. Não é o amor do se. Se você for bonzinho, se você se comportar, se você tirar boas notas, se você for como idealizei, se…

O amor incondicional protege, mas não coloca a criança numa redoma de vidro, que impede qualquer sofrimento, mas a impede de aprender, de conhecer o mundo, de experimentar… Porque é assim, proteção demais impede a dor, mas não permite o amor, as alegrias.

Ele protege, mas não sufoca. Acompanha, observa, permitindo que a criança vá construindo aos poucos a sua identidade, vá descobrindo o mundo e todas as suas possibilidades.

Está atento e se ela se aproxima de algo que vai colocar a sua vida em risco: a protege. Está ao seu lado para compartilhar de suas descobertas, para vibrar com ela, para aprender com ela, mas também para dar conforto, colo, cuidar dos arranhados e “galos” que são inevitáveis, mas não para impedi-los a qualquer custo. São eles que a fortalecem, que ajudam a criança a desenvolver a resiliência de que ela precisará quando for adulta.

Esse equilíbrio entre proteger e deixar viver é complexo. As crianças não nascem com manual de instrução. No momento em que elas nascem, também nasce um pai e uma mãe. Assim como a criança, os pais vão aprendendo e se desenvolvendo a cada dia. Ao longo dessa caminhada vão ser surpreendidos com belas paisagens, alguns obstáculos. Vão errar e acertar, mas se existir amor, a probabilidade maior é de que tudo corra bem.

Não existe uma receita de bolo para ser um bom pai ou uma boa mãe. Existem inúmeros ingredientes, sabores e formas, e cada um vai descobrir o seu jeito. No entanto, existem alguns princípios que norteiam esse processo.

Estamos no mês de outubro e vou aproveitar o mês dedicado às crianças para refletir sobre isso, na intenção de ajudar os pais a encontrarem os seus caminhos, a sua forma única e especial de exercer a paternidade e a maternidade.

Luiza Helena Rocha As estações e a vida Site
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AS ESTAÇÕES E A VIDA

A primavera chegou e com ela as flores, os dias de sol, mais pássaros…

Para muitos na vida humana também existem as quatro estações. A infância seria representada pela primavera, época de flores, de alegrias, de desabrochar. O verão seria a adolescência, com suas temperaturas altas, muito sol, muita energia, uma época vibrante. O outono seria a vida adulta. Uma bela estação, de cores douradas, temperaturas amenas, uma época de serenidade. O inverno representaria a velhice, quando as folhas e as temperaturas caem, tudo fica cinzento.

Talvez seja assim, mas esses dias ao caminhar pensei que na realidade as estações acontecem o tempo todo em nossa vida, às vezes num mesmo dia. Pensei que a vida é como Curitiba, todos os climas podem acontecer num mesmo dia. Saia de casaco e guarda-chuva mesmo num dia quente e com sol, porque tudo pode mudar a qualquer momento.

E assim é a vida. Um dia estamos em plena primavera, cheios de planos, alegres, leves. É a alegria tranquila, serena de quem sabe o que quer, aonde vai.

Noutros dias estamos verão, as emoções são intensas, sejam elas quais forem. Estamos entusiasmados, cheios de energia, com uma sensação de que podemos conquistar o mundo! Talvez não o mundo, mas tudo o que desejamos. Estamos mais destemidos.

Muitas vezes estamos outono. Meio preguiçosos, mais caseiros, querendo desfrutar com tranquilidade da vida e do que conquistamos. Queremos estar perto dos que amamos em silêncio, pois nada precisa ser dito, tudo é simplesmente sentido e compreendido.

E em vários momentos estamos inverno. Nossas folhas caem, nossas esperanças vão embora, nossos dias ficam cinzentos, estamos tristes. Nossos planos não dão certo, as frustrações são grandes, os amores vão embora e levam parte do nosso coração…

Muitos acham que o inverno é doença, é depressão. Tristeza não é doença. Em alguns momentos precisamos nos recolher, olhar para dentro, lamber nossas feridas. Quem olha de fora fica preocupado, parece que a vida está indo embora de nós. Engano. Ela está tomando fôlego, para brotar mais bela e exuberante como uma primavera.

Muitos querem fugir do inverno, esquecem que só existe primavera porque houve inverno, que as pragas são mortas no frio das geadas o que permite o brotar saudável das flores e frutos.

Em alguns momentos o inverno é mais rigoroso. Aí sim é preciso tomar cuidado. Nesses momentos temos que recorrer as estufas ou outro tipo de proteção sejam elas os amigos, uma terapia, um remédio.

Mas como acontece na natureza, mesmo após o mais longo e forte inverno a primavera, com suas cores e vida, chega novamente.

Todos temos a nossa estação preferida. A minha é o outono. No entanto, precisamos aprender a desfrutar da beleza de todas elas. Assim como na vida podemos não querer o inverno, mas é ele que nos permite reconhecer a beleza das outras estações.

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ONDE ESTÁ O HUMANO?

Hoje recebi um vídeo falando de todas as transformações que as novas tecnologias trarão às nossas vidas nos próximos anos. Algumas profissões que conhecemos deixarão de existir ou porque se tornaram desnecessárias, ou porque as pessoas foram substituídas por tecnologia (computadores, apps, inteligência artificial). Não precisaremos mais dirigir carros, haverá menos acidentes, menos vidas serão desnecessariamente perdidas. Poderemos imprimir nossos sapatos novos em casa! Ao mesmo tempo que tudo isso parece fantástico, me parece igualmente assustador.

Um dos motivos que me assustam é que essas transformações parecem tirar o humano, a relação, da equação. Somos seres sociais e foi a nossa capacidade de trabalharmos colaborativamente que nos tornou a espécie dominante no planeta, é o que nos ensina Harari no livro “Sapiens. Uma breve história da humanidade”. Somos seres sociais e necessitamos do outro, necessitamos das relações para nos desenvolvermos, para sobrevivermos.

Acho fantástico um software ou app que, acoplado ao meu celular pode verificar a minha retina, avaliar o meu sangue, a minha respiração e a partir daí analisar o meu estado geral, diagnosticar alguma desequilíbrio ou doença para que providencias possam ser tomadas. Ótimo! Isso vai salvar vidas, vai permitir o diagnóstico precoce de uma série de doenças e assim por diante. Mas não me parece que isso possa substituir a consulta a um médico. Porque para além do diagnóstico e tratamento o que precisamos é de alguém que nos escute, que se interesse por nós e que nos aconselhe, que cuide de nós. Precisamos da relação.

Comprar um par de sapatos é uma experiência. Ver vitrines, muitas vezes com uma amiga, experimentar, caminhar pela loja, conversar com a vendedora, etc. É muito mais do que simplesmente imprimir um sapato novo.

A experiência do humano não pode deixar de existir. Precisamos desse contato. Precisamos de pessoas. Isso não de forma virtual, mas de forma real e concreta. Precisamos do toque. Existem pesquisas científicas recentes que comprovam isso.

Estamos nos isolando cada vez mais. “Conversamos” todos os dias através do WhatsApp com nossos amigos, mas não conseguimos nos encontrar para um café. Sabemos notícias dos parentes que moram em outras cidades, mas passamos semanas sem ver os que moram por perto (tudo bem, em alguns casos isso pode ser uma benção!).

Os casos de depressão, de transtornos de ansiedade e outros aumentam a cada dia e até mesmo crianças têm sofrido com isso. Talvez uma das razões é que estamos diminuindo o convívio entre as pessoas. Um convívio sem interferência da tecnologia. O celular “senta-se” à mesa, as redes sociais tornam as relações virtuais e ocupam o tempo das relações reais.

Toda essa transformação é um caminho sem volta. E traz, com certeza, muitos ganhos. Mas precisamos, como em tudo na vida, de equilíbrio. Aproveitar o que a tecnologia traz de melhoria e vantagem, sem perder o que nos distingue como raça, o que nos torna humanos.

 

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NAVEGAR É PRECISO… MUDAR TAMBÉM!

“O segredo da mudança está em centrar toda a sua energia, não em lutar contra o passado, mas em construir tudo novo”. – Sócrates

Li a frase acima num artigo da revista Pensar Contemporâneo. No artigo eles apresentam dez frases de crescimento pessoal de grandes filósofos. Elas me fizeram refletir e vão dar origem a alguns artigos. Esse é o primeiro.

Mudança e transformação estão presentes em nossa vida desde a fecundação, até a morte. Apesar disso muitos têm dificuldade para lidar com isso, têm medo da mudança.

Mudar é ir em direção ao incerto, é levantar âncora e abandonar o porto seguro do conhecido. Para alguns isso é impossível e permanecem, não sem mudar porque é impossível, mas sem ser o autor da mudança. Ficam em relacionamentos onde não são valorizados ou reconhecidos. Ficam em empregos onde não encontram propósito ou satisfação. Ficam ao sabor do vento, seguindo em direção à morte, olhando a vida passar através das janelas.

Às vezes não se sentem capazes ou com direito a transformar-se e à sua vida como desejam. Crenças em discursos antigos, em velhas histórias, em paradigmas caducos são paralisantes. Não querem decepcionar, não corresponder àquilo que acreditam os outros esperam deles. Acomodam-se nos ganhos secundários que toda situação, mesmo as mais difíceis, têm.

No consultório são muitos os casos de pessoas que repetem as histórias familiares, como se fossem um destino ao qual não podem fugir. Sofrem hoje por dores e culpas que não são suas, por feridas que já cicatrizaram.

Com o passar dos anos se perguntam o que aconteceu, se desesperam pelo tempo perdido. Culpam os outros e mais uma vez não mudam, pois agora a crença é de que não há mais tempo…

Sempre há tempo! Só é tarde demais, quando a vida se encerra.

O passado, nossa história, faz parte do que somos, mas não nos define. Sempre podemos mudar, transformar-nos, não num ideal inatingível de anúncios, mas no que podemos e desejamos ser. Lutar contra o passado de nada adianta. Não podemos mudá-lo. É preciso aceitar.

Quando embarcamos num processo terapêutico é isso que fazemos. Olhamos para nossa história, lidamos com as emoções, com os arrependimentos, perdoamos, aceitamos e… deixamos ficar. Levamos conosco o aprendizado, algumas boas lembranças e só.

Como fazer isso?

Alguns cortam as amarras e se lançam, movidos pelo desespero de nunca mudar. Mas sem a bússola da reflexão navegam em círculos e acabam por retornar ao ponto de partida.

Outros se enganam, repetindo o discurso da mudança, mas concretamente pouco fazem.

Os que conseguem são aqueles que diariamente renunciam ao que eram, abandonam os pesos inúteis, e seguem firmes em direção à mudança. Não fazem estardalhaço, nem tem planos mirabolantes. Entendem que chegar ao destino implica em caminhar todos os passos, navegar todas as ondas. Sabem do cansaço, dos tropeços, dos retrocessos, das tempestades, mas seguem em frente. Entendem que a mudança não é o destino, mas o caminhar, o navegar.

Desfrutam do processo, pois há tristeza, mas também alegria. Há dor, mas também beleza. Acima de tudo há a satisfação e o prazer de saber-se o responsável pela transformação.

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FELICIDADE

Alguns dias atrás me deparei com um vídeo da Casa do Saber onde o professor Oswaldo Giacoia Júnior, falava sobre a angústia e a esperança segundo o filósofo Kierkegaard. Como sempre os vídeos da Casa do Saber são muito interessantes. Não conheço o pensamento de Kierkegaard, mas uma frase do professor Oswaldo me chamou a atenção.

… Nós vivemos um tempo em que somos obrigados a ser felizes. (…) É um imperativo você ser feliz, ser bem sucedido”.

Concordo com essa frase e vejo todos os dias no consultório pessoas – adultos, crianças e adolescentes – buscando esse tipo de felicidade de anúncio de margarina.

O que me chama muito a atenção é que mais do que ser felizes as pessoas querem evitar a qualquer custo a tristeza. Os pais fazem de tudo para evitar que seus filhos lidem com qualquer tipo frustração ou dificuldade.

Bem, o mesmo muro que construímos para nos proteger da tristeza, nos impede a felicidade. Uma vida é plena quando experimentamos todas as emoções e sentimentos: alegria, tristeza, raiva, medo, gratidão, etc.

Se alguém pudesse ser feliz o tempo todo, se nunca tivesse sentido uma tristeza, não saberia disso. Porque nós nos percebemos felizes porque em algum momento estivemos tristes. Sabemos do doce porque experimentamos o amargo.

Ser feliz o tempo todo é viver uma vida de gráfico em linha reta. Num gráfico em linha reta não há vida. Para haver vida é preciso um gráfico com altos e baixos, marcando os batimentos cardíacos. Para haver vida é preciso experenciarmos tristeza e alegria, derrota e vitória, dor e amor.

Claro, faremos tudo para que os altos sejam em maior número, mas não é saudável ou desejável que os baixos nunca aconteçam.

E aí retomo algo que falo sempre: pais que evitam dizer não, dar limite, frustrar seus filhos estão impedido o aprendizado necessário. É preciso aprender a lidar com a frustração. Durante a vida seremos frustrados inúmeras vezes, pois não temos tudo que queremos, na hora e o jeito que queremos.

Quando as crianças encontram os limites dados pelos pais, experimentam a frustração permeada pelo amor. Os pais podem ajuda-los a lidar com isso. É um treino para a vida adulta. Eles se fortalecem, aprendem a não desistir, a superar, a seguir em frente ou, se for o caso, aceitar.

Pais que não dão limites aos filhos, não lhes permitem a frustração, estão plantando a semente de adultos frágeis, despreparados para a vida. Sofrerão muito mais do que o necessário. Essa frustração não será mediada pelo afeto e, muitas vezes, eles não terão os pais por perto para apoiá-los.

A busca pela felicidade duradoura nas coisas é nunca encontrá-la. Essa falta que nunca se completa é o que nos move, mas a felicidade está na busca.

A felicidade está nas relações, no propósito. Ela está em momentos como o que estou vivendo enquanto escrevo este artigo. Ao ar livre, num lindo dia de sol, junto com meus cachorros, que me interrompem para que eu brinque com eles ou faça um carinho. E neste instante… eu sou feliz!